30 dez, 2021 - 19:11 • Lusa
A secção portuguesa da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA) defende a liberdade crítica e criativa, na sequência da polémica sobre a escolha do representante de Portugal na Bienal de Arte de Veneza em 2022.
Numa posição pública divulgada esta quinta-feira, e subscrita por cerca de uma centena de artistas, curadores, críticos e programadores, a direção da AICA Portugal "repudia veementemente quaisquer derivas autocráticas, moralistas ou pretensamente representativas" e defende "o livre exercício" da criação artística, da crítica e da curadoria.
Sem nunca fazer referência à polémica em torno do processo de escolha para a Bienal de Arte de Veneza, a AICA Portugal fala em "pressões sobre os artistas e as instituições, os críticos e os mediadores para corresponderem a agendas específicas e a elas cingirem as suas escolhas, num exercício de autocontenção e mesmo censura".
À agência Lusa, Catarina Rosendo, da direção da AICA Portugal, explicou que o concurso para a bienal italiana serviu de contexto para a associação "sair em defesa da liberdade do juízo crítico".
A AICA Portugal considera positivo que a discussão da representação portuguesa na bienal tenha extrapolado do meio especializado, mas questiona o que está a ser debatido.
"A nossa posição tem uma abrangência mais lata, de debate de ideias. Consideramos que o debate não está a ser produtivo e quando falamos em pressões, tem a ver com o afunilamento de ideias e criação de "soundbytes"", disse.
A posição da AICA Portugal é subscrita por personalidades como o programador António Pinto Ribeiro, os curadores João Pinharanda, Delfim Sardo, Emília Tavares e Bruno Marchand, a galerista Vera Cortês, o escultor Rui Chafes, o arquiteto Gonçalo Byrne, a artista Ana Vidigal, a filósofa Maria Filomena Molder e a jornalista Bárbara Reis.
Em causa está o processo de escolha do representante de Portugal na Bienal de Arte de Veneza 2022, através do qual foi selecionada a instalação artística "Vampires in Space", de Pedro Neves Marques.
O projeto foi escolhido por uma comissão composta por Ana Cristina Cachola, Giulia Lamoni, Sofia Isidoro e Nuno Crespo.
Em segundo lugar ficou o projeto "A ferida", da artista Grada Kilomba, o que levou o curador da proposta, Bruno Leitão, a recorrer do resultado, alegando, em declarações à Lusa, haver "incoerências e irregularidades graves nos critérios de avaliação e violações explícitas dos "Deveres do Júri", que são definidos por lei".
De acordo com a documentação do concurso a que a Lusa teve acesso, três dos elementos do júri atribuíram ao projeto de Grada Kilomba pontuações de 19 e 20 valores, nos diferentes critérios de apreciação.
No entanto, o quarto elemento - Nuno Crespo - avaliou o projeto com 10 e 15 valores, atribuindo aos outros três projetos candidatos notas entre os 16 e os 20 valores.
Esta semana, Nuno Crespo lamentou ter sido alvo de uma "campanha difamatória", pela forma como pontuou os projetos, levando à exclusão do projeto de Grada Kilomba, artista portuguesa que tem trabalhado sobre as questões de racismo, identidade, memória e pós-colonialismo.
A polémica originou ainda uma carta aberta, assinada por cerca de 80 personalidades, associações e coletivos, exigindo uma "revisão da avaliação" do concurso de escolha do representante de Portugal na Bienal de Arte de Veneza.
A 59.ª Bienal de Arte de Veneza decorrerá de 23 de abril a 27 de novembro de 2022.
Os países participantes têm até 11 de janeiro para apresentar o projeto à organização.