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Cinemas estimam prejuízo de 4,1 milhões até 8 de janeiro

05 jan, 2022 - 14:41 • Maria João Costa com Lusa

Com a entrada nos cinemas até 9 de janeiro a obrigar à apresentação de teste negativo ou certificado de recuperação e a excluir a possibilidade de autotestes, a FEVIP e APEC estimam uma perda de 700 mil espectadores.

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É um comunicado conjunto. A Associação Portuguesa de Defesa de Obras Audiovisuais (FEVIP) e a Associação Portuguesa de Empresas Cinematográficas (APEC) alertam que, até 8 de janeiro, os cinemas vão perder 700 mil espectadores. Em causa as medidas decretadas pela Direção-Geral de Saúde que vão vigorar até dia 9 de janeiro.

O acesso a uma sala de cinema está condicionado, até 9 de janeiro, à apresentação de certificado de recuperação ou comprovativo laboratorial de um teste negativo à Covid-19. No comunicado conjunto, a FEVIP e a APEC lamentam que esteja excluída a “possibilidade de autoteste”.

Perante estas restrições, as duas associações representantes do setor cinematográfico “apontam para perda de 700 mil espectadores, contrariando a expectativa inicial de 600 mil”. Tal número, concluem, “representa um prejuízo de 4,1 milhões de euros”.

A FEVIP e a APEC mostram-se indignadas com o que dizem ser a “falta de comunicação e coordenação com o setor, que já de si se encontra fragilizado, fruto do impacto da pandemia Covid-19 em geral”.

O diretor-geral da FEVIP considera que, “além do desajuste das medidas, é incompreensível a falta de solidariedade das entidades oficiais com o setor da cultura, uma vez que não auscultam, previamente, quem todos os dias trabalha nesta área”.

António Paulo Santos critica ainda o facto de “muitas vezes” as medidas serem “dadas em cima da hora, atualizadas durante à noite ou até aplicáveis a datas que já passaram, lançando uma confusão tremenda a todos os níveis”.

Por seu lado, a direção da APEC refere que “nunca houve uma comunicação oficial atempada, por parte do Governo ou da Direção-Geral da Saúde, sobre o tipo de regras a aplicar”. Alegando que o cinema é um dos “setores mais rentáveis da cultura portuguesa”, a APEC lembra que, “só em 2019, os cinemas receberam 15 milhões de espectadores”.

Tal como já tinham referido na semana passada, estas associações apontam novamente a “assimetria na aplicação de medidas de saúde pública”, recordando que as medidas são diferentes para “casinos, bingos e restauração”.

António Paulo Santos reforça que “não há um único relato de transmissão da doença” nos cinemas. O responsável indica que as “medidas na restauração e estabelecimentos de jogos de sorte ou azar foram aplicadas apenas dias 24, 25, 30, 31 de dezembro e 1 de janeiro, enquanto para os cinemas se estendem até 9 de janeiro”.

Exibidores e cineclubes pedem fim de teste obrigatório

“Isto é impraticável. As pessoas chegam às bilheteiras e vão embora”, conta à agência Lusa Tiago Santos, do festival Caminhos do Cinema Português. É um dos 40 subscritores do manifesto “Pelo Direito à Cultura Cinematográfica”, em que cineclubes e exibidores de cinema lançam um apelo ao presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao conselho diretivo do Instituto do Cinema e Audiovisual e à diretora-geral da Saúde, Graça Freitas.

Os subscritores lamentam a falta de coerência na comunicação das medidas de contenção da Covid-19 e falam em "excesso de zelo" na obrigatoriedade de apresentação de um teste negativo para aceder a uma sala de cinema.

Para os exibidores, cineclubes, festivais e associações, as salas de cinema são "espaços seguros com baixíssimas probabilidades de infeção" e "a generalidade dos exibidores está disponível a reduzir a lotação das salas".

Os subscritores do apelo ao Governo lembram que o cinema "sofreu enormes quebras de afluência" com a obrigatoriedade de apresentação de um comprovativo de teste laboratorial ou autoteste com supervisão. E consideram que esta exigência é uma medida discricionária "face a outras atividades do quotidiano", como o uso de transportes públicos e o acesso a restauração ou comércio.

O apelo é assinado por vários cineclubes (Faro, Barcelos, Guimarães, Alvalade, Joane, Tavira), por salas independentes, como o Cinema Ideal e o Cinema Trindade, pelos exibidores Algarcine Cinemas e Cinemas Cinebox, pela Agência da Curta Metragem, por associações como a Apordoc, Filhos de Lumière e Ao Norte, por festivais de cinema, como IndieLisboa, Fantasporto e Queer, e pela produtora Ukbar Filmes.

A eles junta-se ainda, a título individual, o administrador da NOS Cinemas Luís Mota e também a Academia Portuguesa de Cinema e a FEVIP – Associação Portuguesa de Defesa de Obras Audiovisuais.

A exigência de teste em eventos culturais, incluindo exibição de cinema, foi aprovada na reunião do Conselho de Ministros de 23 de dezembro, em que foram alteradas as medidas no âmbito da situação de calamidade, introduzindo um conjunto de novas restrições.

Na semana seguinte, a 28 de dezembro, a Direção-Geral da Saúde (DGS) atualizou as orientações sobre eventos de grande dimensão e eventos de natureza cultural, dizendo que o acesso a eventos culturais poderia ser feito com teste negativo ou com certificado digital de vacinação.

No dia seguinte, a DGS acabou por admitir que tinha havido um "lapso" e esclareceu que se mantinha a exigência de comprovativo de teste à Covid-19 para acesso a eventos culturais, ou a realização de autoteste.

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