27 jan, 2022 - 11:40 • Maria João Costa
A relação do compositor norte-americano Philip Glass com Portugal é antiga. Ele foi o autor da ópera “Corvo Branco”, encenada por Bob Wilson, com que abriu a Expo 98 de Lisboa.
O músico regressa agora a Portugal com uma nova ópera. Orphée, sobe ao palco do Centro Cultural de Belém (CCB), esta quinta-feira e no sábado.
Para criar este trabalho, Philip Glass foi beber inspiração ao cinema, ao filme, com o mesmo nome do realizador francês Jean Cocteau, feito em 1949 sobre o mito de Orfeu.
Tal como o cineasta, o compositor norte-americano explora a ideia de espelho. Quem o diz é Felipe Hirsh, o brasileiro que assina a direção deste espetáculo.
“O filme do Cocteau e a paixão que o Philip Glass tem pela obra dele vem desde criança quando ele assistia em miúdo ao cinema dele nas salas independentes de Nova Iorque”, refere o também realizador.
Felipe Hirsh afirma que “o Orfeu do Glass conta a história clássica do Cocteau que, por sua vez, conta a história clássica do mito do Orfeu, desse homem que vai até às profundezas para retomar o seu amor”.
Segundo o brasileiro que trabalhou com o compositor “tanto o Philip Glass, como o Cocteau conseguem de alguma maneira, trazer muitas cargas de reflexão em cada movimento que esse personagem faz em direção às profundezas onde ele tenta dar sentido ao amor dele”.
Esta é uma ópera que conta a história de Orfeu, o poeta e músico que move céus e terra para trazer a sua amada Eurídice de volta do mundo dos mortos. Felipe Hirsh diz que Philip Glass compôs esta ópera num momento em que também ele enfrentava uma provação de vida.
“Há uma descida aos infernos. Tem aí uma importância muito grande, o facto do Glass ter feito essa ópera numa época em que a esposa dele estava doente e escolhe Orfeu como um alter ego dele, naquela época na década de 80, quando ele enfrentava isso de frente na vida dele”, diz, em entrevista à Renascença, Felipe Hirsh.
Esta ópera de câmara, em dois atos, será interpretada pela Orquestra Metropolitana de Lisboa, dirigida pelo maestro Pedro Neves. Nos principais papéis estão cantores portugueses como Carla Caramujo, Susana Gaspar, Luís Gomes, Marco Alves dos Santos, André Baleiro, Luís Rodrigues ou Cátia Moreso.
Para o brasileiro Felipe Hirsh, ter trabalhado com Philip Glass foi uma oportunidade única de colaborar com quem marca a música mundial. O assistente refere que ficou “muito honrado” com esta ópera.
“Ele é uma pessoa de pés no chão e cabeça no céu. Uma pessoa tão iluminada e inspirada, e ao mesmo tempo tão acessível. É uma pessoa que marcou a música contemporânea americana e mundial e ao mesmo tempo uma pessoa que pensa o hoje e em produzir algo que está ligado ao mundo de hoje”, acrescenta.
Orphée, sobe ao palco do Grande Auditório dias 27 e 29 de janeiro. É uma coprodução com o Teatro Municipal do Rio de Janeiro que poderá ver e ouvir às 19h00.
[notícia atualizada]