01 fev, 2022 - 18:08 • Maria João Costa
Além de escrever teatro, Gil Vicente, o pai do teatro português, também colocava nos textos dos seus autos e farsas as indicações precisas sobre música. Essa novidade será explorada no ciclo que celebra os 500 anos de Gil Vicente que começa neste mês de fevereiro no Centro Cultural de Belém (CCB).
A dar o pontapé de saída na programação está um colóquio internacional que decorre dia 4, entre as 10h00 e as 17h00, no Centro de Congresso e Reuniões do CCB. A direção científica é de Manuel Pedro Ferreira e Luísa Cymbron, ambos investigadores do Centro de Estudos de Sociologia e Estética (CESEM) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa.
A segunda etapa deste ciclo dedicado a Gil Vicente é marcada pela estreia da tragicomédia “As Cortes de Júpiter” com encenação de Ricardo Neves-Neves que sobe ao palco do Grande Auditório dias 5 e 6 de fevereiro às 19h00.
Esta é a primeira obra a sair do Laboratório de Ópera Portuguesa, criado pelo CCB em parceria com o CESEM e a Academia Portuguesa de Artes Musicais. Este espetáculo em forma de ópera conta com a estreia de música do compositor e pianista Filipe Raposo, a par das indicações musicais de Gil Vicente.
Em entrevista à Renascença, Jenny Silvestre, coordenadora artística e musicológica do Laboratório de Ópera Portuguesa explica que “ ‘As Cortes de Júpiter’ têm momentos em que o próprio autor refere que a personagem X vai cantar uma determinada canção”.
Contudo, estas indicações que Gil Vicente deixou, nem sempre estão disponíveis. Jenny Silvestre explica que “ao fim destes séculos todos, nem todas as obras musicais chegaram até nós, ainda estão perdidas em arquivos, ou desapareceram”.
“O material que existe vamos apresentá-lo na integra”, explica esta responsável do Laboratório de Ópera Portuguesa. A completar estas peças musicais que foi possível recuperar, vai juntar-se o trabalho musical original de Filipe Raposo.
O pianista e compositor foi desafiado a criar um ambiente musical para esta obra feita a partir de Gil Vicente. “Assumimos um corte, entre passado e presente”, explica Jenny Silvestre que assim explica o convite a Filipe Raposo para compor obra nova para este espetáculo.
Como solistas, esta tragicomédia terá os elementos do Alma Ensemble, composto por Isabel Fernandes, Liliana Sebastião, Rita Filipe, Teresa Projecto, Frederico Projecto, João Barros, Tiago Amado Gomes e Tiago Mota, dirigidos por Filipa Palhares.
Na interpretação musical estará o ensemble La Nave Va, composto por Catarina Bastos (violino), Gabriela Barros (viola), Joana Tavares (viola), César Gonçalves (violoncelo), Duncan Fox (contrabaixo), António Carrilho (flautas de bisel), Gonçalo Freire (flautas de bisel), Stephan Mason (trompete), Armando Martins (trompa), Richard Buckley (percussão), Helena Raposo (alude, vihuela, tiorba), Helder Rodrigues (trombone) e Jenny Silvestre (cravo).
Este espetáculo é uma coprodução do CCB, com o Cineteatro Louletano, a Academia Portuguesa de Artes Musicais, o Culturproject e o Teatro do Eléctrico.
O ciclo prevê ainda outros espetáculos musicais em torno de Gil Vicente e do género que ele introduziu. Jenny Silvestre indica nesta entrevista “ao longo do mês de fevereiro vamos assistir no CCB a mais concertos que giram à volta dos géneros musicais ou da inspiração existentes na época de Gil Vicente”.
Exemplos disso são a folia, “um género que se tornou amplamente conhecido e muito utilizado em toda a Europa, mas que nasceu aqui com Gil Vicente”, diz Jenny Silvestre. Um desses concertos irá decorrer no dia 6, às 17h00 e leva ao palco do Grande Auditório a Orquestra de Câmara Portuguesa, com a direção do maestro Pedro Carneiro. Serão interpretadas obras de J. S. Bach, Luciano Berio e António Salieri.
Toda a programação do ciclo dedicado a Gil Vicente está disponível no site do Centro Cultural de Belém.