24 fev, 2022 - 18:08
Diogo Infante, Pedro Abrunhosa, Mariza, Carlos Mendes, Gisela João e Selma Uamusse são alguns dos artistas portugueses que se insurgiram, esta quinta-feira, nas suas páginas em redes sociais contra a invasão russa da Ucrânia.
“Quando a humanidade se revela incapaz de evitar uma guerra, estamos todos de luto”, escreve Diogo Infante na sua página oficial no Instagram, num comentário colocado ao lado de uma imagem a negro.
A fadista Mariza, ao referir que o filho lhe perguntou “E agora, mamã?”, optou por publicar uma frase do piloto alemão durante a II Grande Guerra Erich Hartmann, na qual se lê “A guerra é um lugar onde jovens que não se conhecem e não se odeiam se matam entre si, por decisão de velhos que se conhecem e se odeiam, mas não se matam”.
“Hoje somos todos ainda mais ucranianos”, escreve, por seu turno, Pedro Abrunhosa, na sua página oficial no Instagram, acompanhando o comentário com uma foto da bandeira da Ucrânia.
Uma imagem do culto mariano, colocada sobre uma pedra, foi a escolha da fadista Gisela João, que recorda ter visto há dias uma reportagem sobre as movimentações Russia/Ucrânia.
Nessa reportagem foi interrogada uma mulher, vendedora de peixe no mercado, que, quando questionada sobre se viria aí uma guerra respondeu: “Não! Não, não pode vir guerra nenhuma! Tenho os meus filhos e os meus netos em casa e muito trabalho para andar para a frente”, ao mesmo tempo que sorria por achar tudo isto impossível de acontecer.
“Hoje penso nessa mulher e nas milhentas famílias a quem a vida foi tirada, a quem os sonhos estão a ser esmagados a cada segundo”, escreve a fadista, sublinhando que “o mundo está doente há muito tempo, mas aos poucos ia lambendo as feridas quando agora um grupo de seres abjetos se lembra de começar uma guerra”.
E concluiu: “Se há dias em que discuto defendendo que não há pessoas más, hoje sinto a vergonha do mundo. Que tristeza profunda”.
O cantor Carlos Mendes, na sua página no Facebook, opta por citar uma frase do escritor e poeta francês Paul Valery onde se lê “A guerra é um massacre entre gente que não se conhece, para proveito de pessoas que se conhecem, mas não se massacram”.
Por seu lado, a atriz Selma Uamusse escreve na sua página no Instagram que “é muito triste acordar perante mais um cenário de guerra da qual parece que apenas podemos assistir nos nossos ecrãs…”
“Infelizmente não é só na Europa de Leste que diariamente crianças e adultos se deparam com a incerteza do dia de amanhã para não dizer das horas seguintes, por todo o mundo há lugares onde o cenário de guerra é constante ou iminente. Enquanto cidadãos sentimo-nos impotentes, incapazes de fazer algo para travar o que 'os donos do mundo' ditam que será o futuro de crianças, homens e mulheres, mas se há algo que podemos fazer é acolher, amar, consciencializar, orar, cantar…”, acrescenta, dando ainda conta do projeto “Crianças pelas Paz”.
Trata-se do título de um projeto musical de fins humanitários em prol de crianças refugiadas de países como Síria, Afeganistão, Congo, Irão, em situação de carência, que estão em Portugal, um projeto idealizado pelo músico Davide Zaccaria e pela cantora Maria Anadom, que junta uma série músicos e também as crianças do Centro Português de Recolhimento de Refugiados e alunos da Escola de Jazz do Barreiro.
Também artistas e individualidades da cultura na Rússia se insurgiram hoje contra a invasão da Ucrânia pela Rússia, segundo um artigo publicado no jornal The New York Times.
Valery Meladze, um cantor popular russo, de origem georgiana, conta-se entre os artistas que criticou a decisão de o seu país atacar a Ucrânia.
“O que aconteceu hoje é algo que não poderia e não deveria ter acontecido, nunca. (...) Peço que parem as hostilidades militares e se iniciem as negociações”, disse o cantor, num testemunho publicado em vídeo, sem especificar a quem se referia.
O ator e apresentador Maksim Galkin, uma das personalidades mais populares da televisão russa, escreveu na sua página no Instagram que não conseguia expressar os seus sentimentos, sublinhando que “não pode haver justificação para a guerra”.
“Eu digo não à guerra!”, fisou Maksim Galkin, que dirige um programa popular no horário nobre, numa rede de televisão estatal.
Também a cantora Zemfira Ramazanova, uma das estrelas de rock mais populares da Rússia, publicou um comentário em que escreve: “Não à guerra”.
A jornalista Ksenia Sobchak, que durante anos foi impedida de aparecer em programas patrocinados pelo Estado, por causa de sua participação em protestos contra o governo, depois de ler as notícias, hoje de manhã, escreveu na sua página no Instagram: "Nós, russos, vamos ter de lidar com o que aconteceu hoje durante muitos anos".
“Agora vou confiar apenas nos piores cenários, embora sempre tenha sido otimista”, disse, acrescentando que “só os otimistas ficaram na Rússia, os pessimistas já se foram”, cita o The New York Times.
Mais perentória foi a diretora do Meyerhold Center, um teatro estatal de Moscovo, que renunciou ao cargo. Num comunicado, Yelena Kovalskaya, diretora daquele teatro, afirmou que “não é possível trabalhar para um assassino e receber um salário dele”.
Em Itália, o famoso maestro Valery Gergiev, conhecido por ser próximo de Vladimir Putin, e que dirigiu a estreia da ópera de Tchaikovsky “A dama de espadas”, na quarta-feira, no Scala de Milão, foi convidado pelo teatro italiano para se pronunciar sobre a invasão russa da Ucrânia.
O director do La Scala, Dominique Meyer, e o presidente da Câmara de Milão, Giuseppe Sala, enviaram uma mensagem ao maestro pedindo-lhe que fizesse uma declaração apelando a uma "solução pacífica" para o conflito russo-ucraniano, disse à agência France Presse um porta-voz do teatro milanês.
Se o maestro recusar, a sua presença nas próximas récitas de “A dama de espadas”, agendadas para 05 e 13 de março, poderão estar em risco.
Giuseppe Sala, que é também presidente do conselho de administração de La Scala, avisou hoje, num debate público em Milão, que, se não houver resposta, "outro maestro poderá ser encontrado" para as próximas récitas da ópera.
Valery Gergiev, 68 anos, é o diretor-geral do prestigiado Teatro Mariinsky, em São Petersburgo, e é considerado um dos maestros mais conceituados do mundo.
A sua proximidade a Putin, que conhece desde 1992, as suas declarações sobre a anexação da Crimeia ou as "Pussy Riot", os concertos na Ossétia do Sul bombardeada e em Palmyra, ao lado do exército sírio, valeram-lhe muita contestação e controvérsia, durante a última década.
Entrevistado pela France Presse, em Paris, em 2018, Gergiev disse que não queria falar de política, mas saudou a reeleição para um novo mandato de Putin, com quem disse ter-se encontrado "cinco a seis vezes por ano".
"Ganhou as eleições, algo que o mundo ocidental tem dificuldade em compreender", acrescentou na altura.
A Rússia lançou hoje de madrugada uma ofensiva militar em território da Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que as autoridades ucranianas dizem ter provocado dezenas de mortos nas primeiras horas.
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que o ataque responde a um "pedido de ajuda das autoridades das repúblicas de Donetsk e Lugansk", no leste da Ucrânia, cuja independência reconheceu na segunda-feira, e visa a "desmilitarização e desnazificação" do país vizinho.
O ataque foi de imediato condenado pela generalidade da comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários governos, incluindo o português, da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), da União Europeia e do Conselho de Segurança da ONU.