23 mar, 2022 - 15:22 • Maria João Costa
A Renascença inicia esta quarta-feira um podcast que dá a conhecer os testemunhos dos protagonistas e espetadores privilegiados do 25 de abril de 1974.
"Avenida da Liberdade" mergulha nas memórias de personalidades como D.Manuel Clemente, Basílio Horta ou Maria Antónia Palla. A caminho dos 50 anos do 25 de abril pensamos também quem somos, onde estamos e o que seria hoje revolucionário.
“Há muito por cumprir” de abril. Quem o afirma é D.Manuel Clemente ao podcast Avenida da Liberdade com que a Renascença assinala o início das comemorações dos 50 anos do 25 de abril de 1974. O cardeal-patriarca considera que “não há uma democracia plena se não houver participação e corresponsabilização”.
Referindo-se não só à elevada abstenção nas eleições, mas também à fraca participação na vida política, D.Manuel Clemente aponta essas, como falhas no atual processo democrático. Num registo informal, em conversa com o podcast Avenida da Liberdade, o cardeal considera que na sociedade atual “a família deve ser a prioridade”.
“Sem boas famílias dificilmente haverá boa igreja, haverá bom Estado, boa escola”, aponta o cardeal que refere que para “reconstruir uma sociedade, temos de garantir a primeira prioridade que é a família”. Na sua sala no patriarcado de Lisboa, com vista para o Tejo, D.Manuel Clemente discorreu ainda sobre as suas memórias de jovem seminarista no período da Revolução de abril.
Na madrugada em que os tanques saíram à rua, o cardeal estava então no seminário dos Olivais. Lembra que ouviu a notícia pela rádio e televisão e que não saiu à rua. Nesta conversa ao podcast Avenida da Liberdade, D. Manuel Clemente recordou também os momentos que se seguiram ao 25 de abril.
“Tudo aquilo se refletia na Faculdade de Teologia e que maneira! Foram reuniões muito vivas, essas nos 15 dias a seguir ao 25 de abril. Só para dar um episódio que hoje pode parecer caricato, mas que mostra bem como era, aprovavam-se moções. Havia os professores, os alunos e ia sempre buscar-se à secretaria a única funcionária porque achava-se que também havia que participar nas votações. Isto hoje pode parecer muito caricato, mas mostra como eram as sensibilidades na época”, conta D. Manuel Clemente.
Também ao podcast Avenida da Liberdade o cardeal recorda: “Muitas das propostas do programa do Movimento das Forças Armadas e do que acabou depois por ser feito em ermos de democratização da sociedade, ia muito na linha do que tinha aparecido um ano antes na carta pastoral do episcopado. Por isso, digo que a igreja portuguesa estava motiva e preparada para esta evolução” que aconteceu em 1974.