30 mar, 2022 - 08:22 • Maria João Costa
Basílio Horta considera que o sistema político “perdeu poder de atração”.
Ao olhar o aproximar dos 50 anos do 25 de abril de 1974, o atual autarca de Sintra diz que “o sonho mais importante que é vivermos em liberdade está concretizado”. Contudo, o antigo deputado à Assembleia Constituinte alerta para o facto de Portugal não ter hoje uma “liberdade plena”.
“Nos últimos tempos, às vezes, há ali coisas que não estão bem. Por exemplo, quando uma pessoa está ao telefone, já não sabe se está a ser escutada ou não. Mesmo que não tenha nada, mas, às vezes, há uma névoa e um clima que cobre e nos incomoda”, denuncia Basílio Horta, ao podcast da Renascença "Avenida da Liberdade".
Nesta conversa em tom descontraído, durante a quel percorre as suas memórias do período da Revolução, o fundador do CDS soma outras questões que o preocupam na atualidade. “Os julgamentos populares incomodam-me imenso”, diz Basílio, dando o exemplo de “pessoas que são acusadas, investigadas, julgadas na comunicação social e depois absolvidas muitas vezes, enxovalhando o seu nome, cortando as carreiras”.
Lamentando o “vírus da corrupção”, Basílio Horta refere que é um mal que “ataca a democracia e as instituições e que tem de ser combatido”. O autarca considera que a corrupção é motivo de “descrédito”, sobretudo porque "quando há corrupção, há sempre um político atrás".
Considerando que “a liberdade de um autarca é maior” do que a de um ministro, Basílio Horta argumenta que “o autarca é eleito e tem de responder perante o seu povo, enquanto o ministro é da confiança do primeiro-ministro”, pelo que um presidente de Câmara é mais “responsável” perante o seu eleitorado.
Questionado sobre a diminuição do poder de atração da política, Basílio Horta diz que “as pessoas esperam dos partidos quase tudo, tudo aquilo que não conseguem ter, ou que criticam”. Segundo a sua opinião, os políticos devem dar “o exemplo”.
Para Basílio Horta, “os políticos devem mostra pelo exemplo que vale a pena fazer política. A política é o serviço de todos e para todos. A política não é um emprego qualquer. O patrão são os interesses da comunidade. O nosso lucro é o bem-estar das pessoas”, afirma.
Numa viagem no tempo, Basílio Horta percorre no podcast Avenida da Liberdade os dias antes e depois do 25 de abril de 1974. Eram então, secretário-geral da Cooperação da Indústria e diz que no dia antes da revolução participou numa reunião à qual chegou uma carta de Marcelo Caetano.
“Eu e um conjunto largo de pessoas que tinham trabalhado com Marcelo Caetano fomos convidados para uma reunião no Laboratório Nacional de Engenharia Civil. A ideia era, depois do golpe das Caldas, o grupo reunir-se para fazer um grupo político que fosse diferente da Ação Nacional Popular e que revelasse alguma abertura para a democracia. Estava lá o Sousa Franco, o Duarte Ivo Cruz, entre outros. O doutor Joaquim Silva Pinto que era o organizador trazia uma carta de Marcelo Caetano”, conta Basílio Horta que revela que a carta criticava o encontro. “Em vez de reforçarem o regime, ainda o querem dividir mais” escreveu Marcelo Caetano.
Desse “dia atípico” lembra ainda que quando chegou a casa, já os “tanques estavam na rua”. Nas memórias estão também outros momentos do pós-revolução, nomeadamente os trabalhos da Assembleia Constituinte. “Era um dia-a-dia com grandes discussões. Não eram discussões de pormenor da gestão do Estado, eram discussões de construção da democracia”, recorda.
Ouça estas e outras histórias como o episódio do cerco ao parlamento, em que Basílio Horta foi um dos deputados que ficou fechado no hemiciclo durante várias horas, no podcast Avenida da Liberdade disponível esta quarta-feira nas plataformas habituais.