02 mai, 2022 - 13:10 • Maria João Costa , com Lusa
O Teatro Bolshoi anunciou, numa mensagem publicada na rede Telegram, que o ballet “Nureyev” de Kirill Serebrennikov e a ópera 'Don Pasquale' de Timofei Kulyabin vão ser substituídos por outros espetáculos nas seis apresentações programadas para os feriados de maio.
Oficialmente, não são avançadas as razões para esta mudança de programação. Contudo, por de trás poderá estar o facto dos criadores de ambos os espetáculos terem deixado a Rússia, já depois da invasão à Ucrânia e de serem críticos quanto ofensiva russa.
A coreografia que conta a história da vida do bailarino Rudolf Nureyev que também deixou a, então, União Soviética, é da autoria do coreografo e cineasta Kirill Serebrennikov que vive atualmente em Berlim. Serebrennikov saiu da Rússia em abril por "uma questão de consciência", como citou na altura a agência francesa de notícias AFP, e após ter criticado duramente a invasão russa da Ucrânia.
Conhecido pelas suas criações ousadas e pelo seu apoio às pessoas LGBT+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgénero e outras), o artista foi condenado, em 2020, a três anos de prisão, com pena suspensa, por peculato, tendo sido proibido de sair da Rússia.
O seu espetáculo de ballet sobre Rudolf Nureyev, um bailarino considerado prodigioso que fugiu da antiga União Soviética para a Europa, tem estado em cena no Bolshoi desde o final de 2017, apesar das referências à orientação sexual do protagonista num contexto de crescente conservadorismo por parte das autoridades russas.
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O bailado foi substituído por 'Spartacus', uma obra com uma forte componente bélica e que foi apresentada pelo teatro no início de abril em apoio à operação militar russa na Ucrânia. Toda a receita deste espetáculo foi doada às famílias dos soldados russos mortos na ofensiva lançada no final de fevereiro.
Já o espetáculo “Dom Pasquale” é da autoria de Timofei Kulyabin, um jovem realizador que trabalha especialmente em Novosibirsk, e que também trocou a Rússia pela Europa e publicou várias mensagens nas redes sociais a criticar a guerra.
Na sequência da ofensiva russa na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro, vários dos principais bailarinos do Bolshoi abandonaram o teatro, como foi o caso da prima bailarina Olga Smirnova.
Tugan Sokhiev, diretor musical do Bolshoi, também se demitiu do cargo e renunciou à responsabilidade do teatro Capitole, em Toulouse (França), alegando estar sob pressão para se posicionar face aos acontecimentos.
O Museu de Arte Metropolitan, em Nova Iorque, suspendeu, entretanto, as coproduções e a muito esperada digressão internacional da companhia de ballet Bolshoi.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou cerca de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior. A ofensiva militar causou a fuga de mais de 12 milhões de pessoas, das quais mais de 5,4 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.