29 jun, 2022 - 06:36 • Maria João Costa
The Beach Boys fizeram sempre “músicas divertidas” e “positivas”, diz o fundador do grupo, Mike Love, em entrevista à Renascença.
Antes de atravessar o Atlântico para tocar no Festival Jardins do Marquês, em Oeiras, na sexta-feira, 1 de julho, o vocalista e compositor da banda californiana promete um concerto com “todos os sucessos”, porque não quer “desapontar a audiência”.
Mike Love, que a cada frase da conversa vai recordando os mais de 30 êxitos mundiais dos Beach Boys, está ansioso por voltar a tocar em Portugal. Tocarem juntos, ao fim de mais de 60 anos de carreira, é nas palavras do compositor “um passatempo de família que se tornou uma profissão”.
Questionado sobre o atual contexto de guerra na Europa, Mike Love usa a palavra “enojado” para descrever o seu sentimento. O cantor dos Beach Boys defende que “gostava de fazer um concerto mundial pela paz”, porque “é preciso” um movimento perante a incapacidade dos governos.
Ainda se lembra do momento em que criaram os Beach Boys?
Claro! Lembro-me muito bem da primeira vez em que ouvi a nossa música na rádio. Sabe, o meu primo Brian e eu juntamo-nos e escrevemos a nossa primeira música. Saiu no outono de 1961. Chamava-se "Surfin". Havia um concurso na rádio local. Eles passavam quatro ou cinco novas músicas por semana e a que tivesse mais pedidos passava à semana seguinte. Havia essa promoção na rádio que permitia à nova música ser ouvida, o que era simpático.
A minha mãe era uma de oito irmãos e eu tinha muitos tios, tias e primos, o que fez com que ganhássemos o concurso facilmente, porque houve muitas chamadas da nossa família! A nossa música "Surfin" conseguiu a honra de passar à semana seguinte. Isso foi o nosso começo.
Como é que ainda hoje classifica os Beach Boys?
Acho que The Beach Boys são, ainda hoje, um grupo de vive da harmonia, que pensa em primeiro lugar em coisas positivas, e que sempre fez músicas divertidas, como é o exemplo literal de "Fun, Fun, Fun" ou "Good Vibrations", que são músicas muito harmoniosas.
Isso é algo que distingue, dos outros, o som dos Beach Boys. Nós fazemos isso a par de uma batida rock. Às vezes são baladas, como "In My Room" ou "The Warmth of the Sun". Às vezes são baladas com alguma batida, como "God Only Knows". Depois há os grandes êxitos como "Surfin in the USA", "Fun, Fun, Fun", "I Get Around", "Help me Rhonda", "Barbara Ann" - todas essas canções têm harmonias e acho que isso é uma das características distintivas dos Beach Boys.
The Beach Boys são uma banda que atravessa várias gerações, como é que se sentem com isso? Esperam ter no concerto dos Jardins do Marquês em Oeiras muitas famílias?
É engraçado que diga isso. Nós temos uma música chamada "Kokomo" que chegou ao número 1, em 1988, e esteve no filme "Cocktail" com o Tom Cruise, mas também no "Full House" que foi muito popular nos Estados Unidos e noutros locais do mundo.
Nós somos muito reconhecidos e as pessoas que cantam as nossas músicas, muitas, os pais ainda nem se tinham conhecido nos anos 60!
Para nós, é como um passatempo de família cantar juntos, fazer música juntos e criar estas harmonias. É um passatempo de família que se tornou uma profissão, porque eu e o meu primo Brian [Wilson] conseguimos escrever algumas músicas que se tornaram muito amadas pelas pessoas.
Quando a rádio surgiu nos Estados Unidos, os Beach Boys passavam imenso no ar. Tivemos sucessos dos dois lados dos discos de vinil. Nos discos de 45 [rotações] tínhamos de um lado "Surfin Safari", e no outro lado tínhamos "409", uma música sobre um carro. Tocávamos várias vezes, foi uma longa carreira, mas realmente começou devido ao amor da harmonia, o amor pela música!
O que vão tocar em Portugal neste concerto dos Jardins do Marquês?
Nós temos uma nova compilação chamada, "60 anos dos Sound of Summer", que é um álbum com 30 músicas num CD e que tem, essencialmente, todos os nossos sucessos que tocaram na rádio.
Então, vamos tocar muitas dessas músicas. Não gostamos de desapontar a audiência. Se eles querem ouvir "Help Me Rhonda", "I Get Around", "Good Vibration", "God Only Knows" ou "Wouldn'y it Be Nice" que estão neste disco, é isso que nós iremos tocar!
Depende de quanto tempo o festival nos quer em palco. Se querem que façamos uma hora, fazemos uma hora, e tocamos quase todos os nossos sucessos. Se querem uma hora e meia, nós adoramos fazer mais! Nós fazemos normalmente um concerto de duas horas, com um intervalo de 20 minutos. Temos muitas músicas, estamos muito gratos e agradecidos que o público ainda as queira ouvir. Por isso vamos fazer um concerto muito preenchido, com muitas músicas.
De que forma a pandemia afetou a vossa carreira nestes últimos anos?
Por um lado, fechou tudo durante algum tempo, para nós e para todos, mesmo para o desporto! Foi horrível, odiamos. No meio de tudo isto, eu fiz uma canção chamada "This Too Shall Pass". Queria dizer que isto há de desaparecer, haverá um dia novo e vamos conseguir voltar ao "Fun, Fun, Fun" ao sol. A música diz isso literalmente!
O que significa para vocês virem tocar à Europa, numa altura em que está a decorrer uma guerra na Ucrânia, com a ofensiva russa?
Tenho uma música que escrevi há muitos anos e que voltei a misturá-la. Chama-se "Make Love, Not War", era uma música que protestava sobre a guerra nos anos 60. Esta música espero poder voltar a relançá-la outra vez. Fizemos um novo vídeo com a música.
Obviamente que estamos enojados com o que está a acontecer, e esperávamos que a raça humana tivesse evoluído, já não tivesse de ir para a guerra para satisfazer as suas necessidades, mas parece-me demasiado tarde. Penso, perante o que está a acontecer, ter de haver uma muito melhor forma para resolver os conflitos, do que a forma como estão a ser resolvidos recentemente.
Como disse, são um grupo que faz músicas divertidas, com sentido positivo. Cantar esta música novamente "Make Love, Not War" é uma declaração política?
Espero que sim. A música "Make Love, Not War" é isso, é uma declaração musical de que nós precisamos, de que a Terra precisa de uma evolução revolucionária. Definitivamente, para mim é uma declaração e gostava de fazer um concerto mundial pela paz, mal seja possível. É preciso! As pessoas precisam de ter uma voz! Os governos são incapazes.
Olhe para as Nações Unidas! Elas não significam nada! Elas estão paradas enquanto as pessoas são massacradas, pessoas inocentes e as suas casas são bombardeadas, as cidades são destruídas. Tem de haver um levantamento da população mundial contra a guerra, para que os líderes não consigam começar nada que faça mal a tanta gente. Quantos milhões de ucranianos foram para a Polónia? É nojento! Claro que é fabuloso que a Polónia os possa acolher, é muito generoso, mas é horrível! É horrível que estejamos a ver isto nesta altura.
Já tocaram em Portugal, o que recordam do nosso país?
Lembro-me de um festival, lembro-me de uma rapariga ser levada numa prancha de surf! Estava cheio. Foi divertido, passamos um bom bocado em Portugal, mas estamos ansiosos por voltar a Lisboa e tocar neste Festival. Esperamos ver toda a gente no concerto!