15 set, 2022 - 19:56 • Maria João Costa
Depois de “Entre” e “Mundos”, o mote para a Temporada 2022-2023 do Centro Cultural de Belém (CCB) é a frase “Um Chão Comum”. Programadas estão 126 actividades, 76 das quais espetáculos confirmou em conferência de imprensa esta quinta-feira a administração do CCB. A ideia é cruzar várias artes em cada um dos eventos em cartaz.
“O Chão Comum de todas as expressões artísticas”, explicou o presidente do conselho de administração. Elísio Summavielle que começou por se mostrar preocupado com os estudos que apontam para uma “perda de afluência do público aos espetáculos”, referiu-se à programação que agora apresentam como “aliciante”.
No caminho para os 30 anos que o CCB completa em 2023, o administrador com o pelouro da programação, Delfim Sardo deu a conhecer alguns detalhes daquilo que o público poderá ver no CCB. O cartaz tem três marcas, vincou. “Estabelecer pontes, cruzar valências” e mostrar a “diversidade cultural” são três dos eixos desta temporada.
A voz e a precursão são dois pilares da programação, indicou Sardo. “Há uma tónica na ópera, com seis produções, com colaboração com o Teatro Nacional de São Carlos. A ópera é, em si mesma, uma expressão do cruzamento de artes” explicou o programador, justificando assim o aumento no número de óperas no palco do CCB este ano.
Uma das óperas que será apresentada é “O Navio Fantasma” de Richard Wagner, pelo Coro do Teatro Nacional de São Carlos e a Orquestra Sinfónica, numa nova produção de Max Hoehn, dias 24 e 26 de abril. A abrir as celebrações dos 30 anos do CCB será estreada a ópera “Paraíso”, de Nuno Rocha com encenação e coreografia de Marcos Morau a 27 de janeiro.
No que toca à vertente da precursão, Delfim Sardo explicou que foi dada Carta Branca ao maestro e percussionista Pedro Carneiro. O músico irá criar quatro espetáculos, um deles, “Árvore”, que subirá ao palco a 19 de maio do próximo ano, será em parceria com o projeto de música eletrónica português Moullinex. Nas palavras de Sardo é uma “grande aposta que marca o arranque das celebrações dos 30 anos do CCB”.
Ainda na aposta na voz, Delfim Sardo destacou o convite feito à cantora Anabela Duarte que irá “explorar a poesia fonética”. Outra das novidades apresentadas pelo programador foi o projeto “Pendular” feito em parceria com o Teatro Rivoli, e que visa “convidar artistas do Porto que nunca se apresentaram em Lisboa, e artistas de Lisboa que nunca se apresentaram no Porto” num intercambio artístico.
Numa tentativa de conquistar público, o CCB, detalhou a administradora Madalena Reis, vai implementar uma política de redução de preços de bilhetes. Haverá “descontos de 50 por cento para pessoas em situação de carência, no desemprego, e para jovens até aos 30 anos. A ideia explicou esta responsável é dar “mais e melhores condições para vir ao CCB”.
Também no âmbito das comemorações dos 30 anos, será apresentado um podcast em parceria com a Antena 1 e com o animador Nuno Galopim sobre as memórias deste equipamento cultural.
Para cativar o público, o CCB programou para dias 23 e 24 de setembro, dois dias de Portas Abertas. Dia 23 as atividades são pensadas para o público escolar e “depois, no sábado, para as famílias e publico em geral”, disse Madalena Reis.
A ideia é “convidar as pessoas para virem ao CCB, assistir aos ensaios, irem ao mercado, tomar contato com a programação”, explicou a responsável que concluiu “é preciso aprender o caminho”, para que o público conheça a programação.
Nas novidades, Paula Fonseca do CCB referiu que a Sala de Leitura já “retomou a atividade” e lembrou que “tem 18 mil livros no seu catálogo” disponíveis para o público. Para 2023 foi também anunciado um novo ciclo de conversa sobre “Casais Famosos” como Vieira da Silva e Arpad Szenes ou Mário Soares e Maria Barroso que será moderado por Luís Osório e que terá início em janeiro.
Na temporada que agora começa, o CCB vai acolher companhias nacionais e internacionais apontou o programador Fernando Luís Sampaio na conferência de imprensa. Um dos destaques é desde logo o regresso, em fevereiro, dias 17 e 18, do coreografo Akram Khan com a produção “Jungle Book Reimagined” sobre as alterações climáticas.
No âmbito nacional, o CCB recebe a 27 e 28 de outubro o espetáculo C A R C A Ç A de Marco da Silva Ferreira que leva ao palco 10 bailarinos numa coreografia sobre a identidade coletiva, memória e cristalização cultural.
Outro regresso será o dos SillySeason que desta vez apresentam no CCB de 17 a 19 de fevereiro, o espetáculo “Rei Édipo”. Também no âmbito do teatro, mas cruzando a música, a atriz Carla Bolito adapta o romance Cartas de Casanova Lisboa 17757, de António Mega Ferreira, num espetáculo com a Orquestra Metropolitana.
“Casanova em Lisboa” é levada a palco de 17 a 19 de março, com a direção de orquestra de Marcos Magalhães e numa “homenagem”, indicou Fernando Luís Sampaio ao ex presidente do CCB e diretor da Metropolitana, Mega Ferreira.
A Fábrica das Artes volta a receber o Festival Big Bang este ano de 21 a 22 de outubro oferecendo “uma experiência artística”, aos mais novos, explicou Madalena Wallenstein, a responsável daquele espaço educativo do CCB.
Haverá também um “Ciclo de Cinema Ação” que terá como artista convidado, o pianista Filipe Raposo que irá compor música para o filme “Peculiar crime do estranho senhor Jacinto”, disse Madalena Wallenstein. 2
Ainda no âmbito dos espetáculos para “todas as infâncias” destaque para “Sem Medo”, criado e encenado pela atriz Teresa Coutinho. “É uma piscadela de olho ao ‘João Sem Medo’ do José Gomes Ferreira”, disse a responsável da Fábrica das Artes indicando que cruza também com o texto de Miguel Granja, “Simão Sem Medo”.
Paula Fonseca destacou ainda o projeto Há Fado no Cais, em parceria com a EGEAC e que levará ao palco do CCB nomes como Maria Ana Bobone, Camané, Aldina Duarte, Cristina Clara ou Pedro Moutinho.
Já na programação da Garagem Sul, o programador André Tavares apresentou duas exposições, uma que começa já dia 29 de setembro no âmbito da Trienal da Arquitetura, intitulada “Ciclos – os arquitetos nunca deitam nada fora” que aborda as questões da “economia circular e do ciclo de vida dos materiais”; e outara que será apresentada em março do próximo ano, “em colaboração com Plano Nacional das Artes” intitulada “Sala de Aula: um olhar adolescentes” sobre a arquitetura.