07 nov, 2022 - 08:26 • Henrique Cunha
Assinala-se quarta-feira, 9 de novembro, o Dia Internacional Contra o Antissemitismo. A data que alude ao 84º aniversário da "Noite dos Cristais", a Kristallnacht, designação dada aos acontecimentos ocorridos na Alemanha na noite de 9 de novembro de 1938, que viria a marcar o início o Holocausto.
Foi naquela noite que os vidros e as janelas de lojas, sinagogas e centros judaicos foram quebrados, na Alemanha e na Áustria.
O Museu Judaico e o Museu do Holocausto do Porto assinalam a data numa iniciativa conjunta que deverá juntar mais de mil alunos das escolas de Portugal. Os estudantes deverão acender uma chama contra o antissemitismo.
O museólogo Hugo Vaz, que é o diretor do Museu Judaico do Porto, explica à Renascença que foi preparado um programa que inclui “não só o Museu do Holocausto do Porto, como também o Museu Judaico”.
Nesse dia da parte da manhã “receberemos duas escolas por forma a que possam visualizar um dos nossos filmes; uma visualização que será acompanhada pela vice-presidente, e neta de um dos fundadores da comunidade”.
"Da parte da tarde, esperamos receber cerca de 1000 alunos de escolas de todo o país e ilhas."
Hugo Vaz revela que foi possível registar uma grande adesão ao convite formulado, o que vai permitir que “esses mil alunos visitem o Museu do Holocausto, onde poderão assistir à inauguração da nova exposição temporária, precisamente sobre a Kristallnacht”.
“É importante referir que o Dia Internacional Contra o Antissemitismo celebra precisamente o aniversário da Noite dos Cristais, a noite em que grande parte das sinagogas e das lojas de judeus foram destruídas na Alemanha e na Áustria”, explica.
“Desta forma, valorizaremos o octogésimo quarto aniversário da Kristallnacht”, refere o responsável.
"Está ainda prevista uma atuação do nosso coro masculino - que cantará um conjunto de músicas e acenderemos simbolicamente uma chama em memória de todos aqueles que perderam a sua vida não só nesta noite, mas durante todo o Holocausto."
Na opinião de Hugo Vaz, a juventude está sensibilizada para este problema e lembra a preciosa colaboração “dos professores que ajudou a que o museu do holocausto já tivesse, desde a sua abertura, no último ano e meio, a visita de cerca de 80 mil pessoas, a esmagadora maioria das quais - mais de 90% - são oriundos de escolas e vêm por intermédio de visitas escolares organizadas por todos os professores”.
“Contamos com essa ajuda, mas eu creio que sim; os jovens têm plena consciência do Holocausto”, reforça. Hugo Vaz admite que “a visita a um museu para perceberem um bocadinho melhor o que foi esta fase negra da nossa história, ajuda muito, mas eu diria que estão bastante sensibilizados”.
O responsável revela mesmo que muitos dos futuros visitantes tomaram a iniciativa, porque “foram os jovens que pediram aos professores para visitar o museu nesse dia e, portanto, isso diz muito da sensibilidade destes jovens”. É por isso que o museólogo promete “continuar a trabalhar na divulgação do museu e das suas iniciativas e naturalmente prosseguir com a promoção das suas iniciativas junto dos docentes para que as incluam nos seus programas escolares”.
De acordo com Hugo Vaz, “dificilmente recebemos uma escola numa visita guiada em que não haja um aluno ou mais do que um a falar, ou a comparar ou a criar essa analogia do holocausto com a realidade que estamos a viver hoje em dia, precisamente com a guerra na Ucrânia” e portanto, “eu creio que sim, essas análises são feitas e os jovens têm plena consciência e eles próprios fazem essa análise”.
O Museu Judaico do Porto detém uma variada coleção de objetos e documentos relacionados com a prática religiosa judaica e com a história milenar dos judeus na Cidade do Porto, que foi interrompida pela intolerância religiosa dos séculos XV e seguintes. Este espaço encontra-se reservado apenas para visitas de escolas, cursos de professores e para a comunidade judaica.
O Museu do Holocausto do Porto é dirigido ao grande público. De acordo com os seus promotores, o museu é a materialização de um repto lançado à sociedade civil pelo projeto governamental “Nunca Esquecer, em torno da memória do Holocausto” e pretende honrar a Aliança Internacional para a Memória do Holocausto, da qual Portugal é membro.
Trata-se do primeiro Museu do Holocausto da Península Ibérica. Abriu portas em 2021 e, desde então, soma já mais de 70 mil visitas.