07 dez, 2022 - 11:39 • Olímpia Mairos
“Sentimos necessidade de inventariar este património, que, além da dimensão científica, tem uma dimensão histórica e artística, mas também muito turística, pois poderemos definir percursos de relógios de sol na cidade ou até na própria região” – é assim que a professora Elfrida Ralha, do Departamento de Matemática da ECUM, justifica o trabalho de inventariação que está a ser realizado na região.
O trabalho inédito, está a ser coordenado por professores da Escola de Ciências da Universidade do Minho (ECUM), e alguns cidadãos, decorre há um ano e já permitiu a catalogação de 150 relógios de edifícios públicos e privados, como a Sé de Braga e o Mosteiro de Tibães.
Três dezenas destes instrumentos científicos, considerados objetos de arte, podem agora ser apreciados na exposição “Relógios de Sol”, no Museu dos Biscainhos, em Braga.
De acordo com a professora Elfrida Ralha, “um relógio de sol é o único que nos diz a hora exata, pois o que temos no pulso tem uma hora média, fixada pelos meridianos. O meio-dia em Braga não é o meio-dia de Lisboa ou de Faro, porque o sol movimenta-se”.
A docente relembra que estes objetos eram muito utilizados pelos antepassados, por exemplo, para identificar as épocas de plantio e colheitas.
“Serviam para as pessoas saberem se estava na hora de mudarem os cursos da água para os campos dos vizinhos, de irem almoçar, rezar ou voltar para o trabalho. E podiam ser crianças de 5 anos que iam ler as horas nestes relógios”, sintetiza.
Em Portugal, há trabalhos recentes sobre os relógios de sol, mas ainda não existe uma base de dados nacional com a sua catalogação. Em muitos destes objetos encontram-se divisas (frases), muitas delas em latim, de natureza religiosa/filosófica (apelam ao nascimento e à morte no contexto do nascer e pôr do sol), política ou pedagógica (tornaram-se provérbios).
A exposição inclui peças dos concelhos de Braga, Amares, Barcelos, Celorico de Basto, Fafe, Guimarães, Póvoa de Lanhoso, Terras de Bouro e Vila Verde.
Produzida pela ECUM, com curadoria de João Cabeleira e Elfrida Ralha, tem a parceria de Centro de Matemática da UMinho, do Laboratório de Paisagens, Património e Território (Lab2PT), da Fundação para a Ciência e Tecnologia, da Rede Casas do Conhecimento, do Município de Braga, do Planetário - Casa da Ciência de Braga, do Museu dos Biscainhos e da Direção-Regional de Cultura Norte.
A exposição pode ser vista até 8 de janeiro e a entrada é gratuita. A ECUM tem ainda prevista a construção de um relógio de sol na cidade, em parceria com o Município de Braga.