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Morreu a escritora brasileira Nélida Piñon

17 dez, 2022 - 21:11 • João Carlos Malta , Maria João Costa

É uma das escritoras brasileiras mais famosas e foi a primeira mulher a liderar a Academia de Letras Brasileira. Era uma amante devota da língua portuguesa, e via na escrita uma ferramenta para chegar ao céu e ao inferno.

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A escritora Nélida Piñon, nascida no Rio de Janeiro numa família originária da Galiza, faleceu hoje em Lisboa, no Hospital CUF Descobertas. Tinha 85 anos e foi autora de livros durante mais de 60 anos.

Nélidia é um grande vulto da cultura em língua portuguesa, e a primeira mulher a ser presidente da Academia de Letras Brasileira. Foi também vencedora do prémio Princípe das Astúrias.

"Expoente máximo da literatura brasileira que escreveu de um modo fulgurante, expressando os sonhos de todo o Brasil e as grandes questões da literatura com a cultura e a sociedade", escreve a editora da autora em comunicado que dá conta do desaparecimento da escritora.

"Humanista, generosa, interventiva, uma artista do pensamento, teve uma voz firme contra a censura e a ditadura no Brasil. Feminista, afrontou com coragem os modelos tradicionais, celebrando e escrevendo a liberdade de pensar", acrescenta a mesma mensagem.

Nélida Piñon considerava-se "devedora da história e da cultura clássica, dos gregos, mas também de Camões, de Cervantes, de Shakespeare, de Machado de Assis" que devotamente deu a conhecer ao mundo, por todos os lugares onde foi professora em grandes universidades, por todos os lugares por onde passou.

"Com humildade, disse-se brasileirinha, mas levou-nos numa viagem homérica, contando-nos os seus pensamentos sobre a leitura, a sua paixão pela escrita, a sua relação vital com a literatura, a sua visão não apenas da mulher brasileira, mas de todas as mulheres desde tempos remotos, e sobretudo a importância que a memória assume, numa viagem que simboliza todas as viagens do mundo", escreve ainda a editoraTemas e Debates.

“Um Dia Chegarei a Sagres” foi a última obra da escritora brasileira. O romance aborda a aventura marítima portuguesa, e foi escrito em Portugal durante o ano de pandemia.

Na altura em entrevista à Renascença disse que a língua portuguesa era a sua grande razão de viver.

Nessa entrevista e quando questionada sobre as seis décadas que dedicou à escrita afirmou que: "Para mim é uma paixão extraordinária".

"Estou completando 60 anos de ofício literário, de devoção impressionante à literatura. A literatura abriu-me as portas do paraíso, e ao mesmo tempo do inferno", disse.

E completou a ideia, referindo que escrever lhe "ensinou a ser mestre de mim mesma, porque eu aceitei a mestria do mundo. 60 anos em que eu posso dizer que incluo a família, os meus amores, a minha devoção pela vida".

"Vivi sempre com imensa intensidade. Não me furtei de viver, não me furtei de aprender, não me furtei de amar profundamente a língua portuguesa que é a grande razão da minha vida", rematou.

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