02 mar, 2023 - 11:35 • Maria João Costa
Anuncia-se como uma produção em dois planos, um mais clássico, outro mais moderno. A ópera Lucia de Lammermor estreia esta sexta-feira no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, com encenação de Alfonso Romero Mora que regressa à casa de ópera portuguesa.
A produção é protagonizada por dois cantores líricos portugueses, o tenor Luís Gomes e a soprano Rita Marques que, em entrevista à Renascença, consideram que “ter dois portugueses a fazer esta ópera é algo inédito”, indica Luís Gomes que considera por isso a ocasião “muito especial”.
Esta nova produção de uma das óperas mais populares de Geatano Donizetti que conta também com récitas dias 5, 8 e 10 de março promete oferecer ao público “uma nova visão da história trágica de Lucia, a mulher apaixonada por Edgardo que é forçada pelo irmão a casar com Arturo, a quem acaba por assassinar na noite de núpcias”, indica a sala de ópera em comunicado.
Segundo Luís Gomes, “esta produção é um bocadinho diferente daquilo a que estamos habituados numa Lucia mais tradicional. Apesar da história da Lucia estar presente, e haver esse elemento histórico com os figurinos e com a realidade que está a acontecer, temos duas realidades paralelas porque temos uma realidade mais moderna”.
Rita Marques que vestirá figurinos contemporâneos e de época, reforça a ideia ao afirmar: “no fundo temos aqui duas camadas entre a Lucia do Walter Scott, portanto, digamos, a antiga e a mais moderna. Estas duas camadas cruzam-se. As duas Lucias encontram-se na dor, no sofrimento, no abuso, no declínio. É um ponto de vista diferente daquele a que estamos habituados e faz-nos aqui explorar outras visões”, conclui a cantora lírica
Depois de ter encenado Faust, de Charles Gounod, em 2022, o encenador Alfonso Romero Mora traz agora ao palco de São Carlos esta ópera para o qual pensou um cenário reflete essa modernidade que falam os dois cantores líricos.
Numa das cenas mais emblemáticas da produção, a da loucura da personagem principal, Lucia de Lammermoor, há uma vontade de fuga. A protagonista, diz Rita Marques tem “vontade de fugir de tudo”, de “tomar as rédeas da sua própria vida”, daí, explica a soprano “a cena final” onde um carro vermelho descapotável entra em palco.
“Daí o carro na cena final e toda esta simbologia de fuga de tomar as rédeas da própria vida. Agora eu vou acabar com a minha vida, porque quero e, não porque vocês querem” explica Rita Marques sobre a sua personagem.
Também outro dos pontos altos desta ópera é a cena da morte de Edgardo, a personagem desempenhada por Luís Gomes que em 2018 foi distinguido com dois prémios na Final da Operália justamente ao interpretar esta cena.
Com libreto de Salvatore Cammarano, segundo o romance homónimo The bride of Lammermoor, de Walter Scott esta produção tem cenografia assinada por Ricardo Sánchez Cuerda e coordenação de figurinos de Nuno Velez.