08 mar, 2023 - 22:06
Manuel Braga da Cruz, antigo reitor da Universidade Católica, recebeu esta quarta-feira o prémio Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes. Na cerimónia de entrega da distinção, que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, o sociólogo e historiador destacou o papel da fé nas ciências sociais e afirmou que a fé é “uma iluminação prioritária para o cientista social”.
“Foram católicos os que se empenharam na institucionalização das ciências sociais em Portugal a nível universitário, com particular relevo para Adérito Sedas Nunes e Adriano Moreira. A primeira licenciatura de sociologia existente em Portugal, fundaram-na os jesuítas em Évora, no começo da década de 60, do século XX”, disse.
“Não houve, pois, entre nós, alheamento entre as ciências sociais e a fé católica. Esse entrosamento resultou da acertada convicção de que a ciência social e a ação social são indissociáveis”, declarou no discurso de aceitação do prémio.
Manuel Braga da Cruz afirmou, ainda, que atribuir uma distinção “de cultura a um cientista social tem um especial significado porque revela a compreensão de que as ciências sociais são ciências da cultura”. “É um reconhecimento da dimensão cultural do social”, disse o historiador e sociólogo, afirmando que “a cultura impregna toda a ação social”.
A entrega da distinção foi feita por D. João Lavrador, presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais e bispo de Viana do Castelo, que afirmou que a distinção de Braga da Cruz “veio valorizar o prémio”.
José Miguel Sardica, professor da Universidade Católica, recordou a trajetória científica e o magistério de Manuel Braga da Cruz, destacando a sua "liderança inspiradora”, enquanto reitor da Universidade Católica, e a “a vastidão da sua diversa atividade”.
“As suas obras constituíram-se como textos de referência. O seu pensamento nunca foi estanque”, afirmou José Miguel Sardica, caracterizando Braga da Cruz como “um grande historiador", "um dos mais destacados na reflexão sobre a Igreja”, e “um humanista convicto”. “O facto de ser assumidamente católico e discretamente conservador nunca contaminou a sua atividade enquanto historiador”, acrescentou ainda o académico.
A atribuição do prémio a Braga da Cruz foi justificada pelos jurados pelo “testemunho convicto de humanismo cristão” do sociólogo e historiador. “Com pensamento estruturado desde a inicial formação em Filosofia, Manuel Braga da Cruz conjugou de forma exemplar a liberdade de espírito com a coerência de princípios na carreira universitária como brilhante investigador e professor, desde o Instituto de Ciências Sociais até à Universidade Católica Portuguesa, de que foi reitor entre 2000 e 2012.”
O Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes destaca anualmente, desde 2005, "a excelência de personalidades, percursos e obras que refletem o humanismo e a experiência cristã no mundo contemporâneo".
Nas edições anteriores, o prémio distinguiu figuras como o poeta Fernando Echevarría, o cientista Luís Archer, o cineasta Manoel de Oliveira, a classicista Maria Helena da Rocha Pereira, o político e intelectual Adriano Moreira, o arquiteto Nuno Teotónio Pereira, o ator e encenador Luís Miguel Cintra e o ensaísta Eduardo Lourenço.