13 mar, 2023 - 07:14 • Daniela Espírito Santo com Reuters
Morreu o Prémio Nobel da Literatura de 1994, Kenzaburo Oe.
O japonês tinha 88 anos.
Segundo avança a agência Reuters, Oe morreu a 3 de março de problemas relacionados com a velhice, mas só agora tal foi confirmado pelo agente do escritor.
Kenzaburo Oe arrecadou o segundo Prémio Nobel da Literatura para o Japão, em 1994. Nos seus livros falava, sobretudo, de pacifismo e de um dos seus três filhos, que tinha deficiência.
Entre as temáticas que explorou nas suas obras contam-se detalhes da Segunda Guerra Mundial, que o Japão perdeu quando Oe tinha dez anos. A bomba atómica de Hiroshima serviu de pano de fundo para a sua ideia de pacifismo, que defendia juntamente com a ideia de que o seu país também era culpado pela tragédia. "Esta guerra, que envolveu imensos poderes globais, causou muito sofrimento por todo o mundo. E a realidade é que, nesta imensa guerra, foram criadas e utilizadas armas nucleares", disse, durante uma entrevista em 2014.
Já o filho foi, igualmente, uma inspiração muito presente nos seus livros. Hikari não conseguiu, durante anos, comunicar com a família, facto que levou Oe a escrever, num esforço para lhe dar voz. Várias das suas obras acabaram por ter, como consequência, personagens baseadas no seu filho, Hikari.
Kenzaburo Oe nasceu eo Shikoku, no Japão, terceiro filho de sete. O pai morreu de forma repentina em 1944 e Oe acabou por ser criado apenas pela mãe, que lhe comprava livros. Frequentou a universidade de Tóquio e estudou Literatura Francesa. Ainda estudante, começou a publicar pequenas histórias e acabou por ganhar um prémio importante para novos escritores em 1958, lançando a sua carreira na área. Depois de receber o Nobel da Literatura foi-lhe atribuída a Ordem da Cultura no Japão, mas Kenzaburo recusou-a por ser entregue pelo Imperador. "Não reconheço quaisquer autoridades ou valores maiores do que a democracia", disse, na altura.
Em 2011 voltou a apelar ao pacifismo criticando fortemente o acidente nuclear de Fukishima. Para Oe, o Japão tinha "o dever sagrado" de renunciar ao poder nuclear. Dois anos depois, organizou uma manifestação anti-nuclear em Tóquio e, em 2015, juntou-se a um protesto contra o então primeiro-ministro Shinzo Abe.