08 jul, 2023 - 23:06 • Manuela Pires
A obra “Identificação de um país, ensaio sobre as origens de Portugal”, de 1985, é uma das obras mais emblemáticas do historiador José Mattoso que dedicou grande parte da vida ao estudo da época medial em Portugal. No dia da sua morte, José Miguel Sardica, historiador e professor na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, destaca esta obra como sendo decisiva para compreendermos a história de Portugal ao longo dos nove séculos até aos nossos dias.
“Deixou-nos uma obra, que os especialistas consideram ser absolutamente decisiva que se chama Identificação do um País em que, a propósito da formação medieval do século 11 ao 14, estabelece dados estruturantes sobre o espaço, sobre a sociedade, sobre as gentes e os valores” diz José Miguel Sardica, em declarações à Renascença.
José Mattoso, que morreu este sábado aos 90 anos de idade, passou 20 anos da sua vida como monge beneditino, primeiro em Lovaina, Bélgica, onde estudou e depois no Mosteiro de São Bento de Singeverga, em Santo Tirso.
José Miguel Sardica diz que não se sabe se foi a história que o aproximou da vida religiosa ou o contrário. Mas sabe-se que a história que fazia era uma história com a abertura ao espiritual.
“Como ele várias vezes disse, a história era um exercício de espiritualidade, de ascese, de busca no seu objeto histórico de uma verdade intangível é e ao mesmo tempo era um exercício de compreensão do outro e, portanto, deve ter havido com certeza, um espírito de missão religiosa da maneira como ele selecionava os seus temas e pela maneira literariamente elegante com que ele escrevia numa obra que sempre foi, mas que agora pode e deve voltar a ser relida e voltar a ser interpretada”, conclui José Miguel Sardica.
José Mattoso nasceu em Leiria, em 22 de janeiro de 1933, e foi o primeiro a ser distinguido com o Prémio Pessoa, em 1987. Autor de mais de 30 obras (algumas em colaboração), renovou o interesse pelo estudo da Idade Média portuguesa, área sobre a qual publicou a maior parte da sua obra, nomeadamente “Identificação de um País” (1985), que apresentou novas linhas de investigação sobre aquele período.
O historiador assinou também uma biografia de D. Afonso Henriques, publicada em 2006 pelo Círculo de Leitores, e dirigiu várias obras coletivas (“História de Portugal”, 1993-1994; “História da vida privada em Portugal”, 2010-2011; “Património de origem portuguesa no mundo”, 2010).