12 jul, 2023 - 12:18 • Lusa
Vestígios dos glaciares mais antigos do mundo, datados de há 2,9 mil milhões de anos, foram encontrados por baixo dos maiores depósitos de ouro do planeta, na África do Sul, anunciaram em Lyon cientistas sul-africanos e norte-americanos.
O facto sugere a presença de calotes polares continentais nessa altura e que a área se encontrava mais próxima dos polos, ou que partes da Terra poderão ter congelado num período de glaciação global anteriormente desconhecido, com um clima extremamente frio.
O trabalho está a ser apresentado pela primeira vez na conferência de geoquímica Goldschmidt, em Lyon, e foi publicado recentemente pela revista Geochemical Perspectives Letters.
Os cientistas concordam que deve ter havido grandes variações no clima da Terra primitiva, mas tem sido difícil encontrar provas convincentes das condições exatas no planeta nesse período.
Agora, os investigadores – um sul-africano, Axel Hofmann, da Universidade de Joanesburgo, e outro norte-americano, Ilya Bindeman, da Universidade de Oregon - descobriram no chamado Supergrupo Mesoarqueano Pongola, na África do Sul, provas de concentrações relativas de isótopos de oxigénio em rochas antigas, bem como provas físicas que revelam a existência de glaciares há 2,9 mil milhões de anos.
"Encontrámos depósitos glaciares extremamente bem preservados perto dos campos de ouro da África do Sul. Esta é uma das poucas áreas que permanecem relativamente intactas e inalteradas desde os primórdios da Terra”, anunciou Ilya Bindeman
Estes depósitos são moreias glaciares fossilizadas - restos deixados por um glaciar à medida que este se derrete e contrai gradualmente –, e são os “mais antigos alguma vez encontrados”, sublinhou ainda Bindeman.
“Conseguimos correlacionar isto com a análise dos isótopos de oxigénio destas rochas, o que mostrou que o clima devia ser frio quando as rochas foram depositadas", explicou.
Os investigadores propuseram algumas explicações possíveis, a área onde foi desenvolvida a exploração e recolha de amostras poderia estar próxima dos polos no período de formação das moreias,
Mas outra possibilidade é que toda a Terra estivesse num período de glaciação global, quando as baixas concentrações atmosféricas de CO2 e CH4 causaram um "efeito de estufa inverso", fazendo com que grande parte do planeta congelasse.
Os cientistas acreditam que isto pode ter acontecido em algumas ocasiões no passado mais recente e, se assim for, este terá sido o período mais precoce de arrefecimento global de que há registo.
“Qualquer uma destas possibilidades é cientificamente interessante", afirmou Axel Hofmann.