27 jul, 2023 - 17:30 • Diogo Camilo , Filipa Ribeiro , Sónia Santos
Existe um Lisboa, uma alternativa para crianças e jovens que, por algum motivo, precisam de ir viver para uma instituição. O Acolhimento Familiar é uma iniciativa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e dá a oportunidade a estas crianças de crescerem em ambiente familiar, fazendo parte de uma família de forma temporária.
Isabel Pastor é a Diretora Unidade Adoção, Apadrinhamento Civil e Acolhimento Familiar da Santa Casa e esteve à conversa com a Sónia Santos na Renascença, para explicar o projeto criado em 2019 que já apoiou 131 crianças e jovens.
A responsável destaca a necessidade de impulsionar o projeto em Portugal, para chegar ao objetivo de 90% das crianças até aos 12 anos a serem acolhidas por famílias. Para isso, defende, é preciso “captar muitas mais famílias”. “As necessidades atuais continuam a ser muito superiores às respostas que podemos dar. Precisamos da colaboração de todos: famílias, profissionais, comunidade em geral, para cuidar proteger e acolher uma criança ou jovem, pelo tempo que for preciso, criando uma relação que perdurará para toda a vida, da criança e da família que acolheu."
Que impacto tem este acolhimento em ambiente familiar?
É um impacto extraordinário, no sentido em que a família é a solução natural para o crescimento e desenvolvimento de qualquer criança. Ou o contrário: a institucionalização, o impacto do acolhimento em casas coletivas é negativo, por não lhe ser prestado este cuidado responsivo, individualizado, afetivo, caloroso e a vivência deste ambiente dentro da família.
Nessa medida, constituem uma relação de fratria com os outros elementos, mas não é um acolhimento coletivo como nas casas de acolhimento, em que chegam a estar 15 ou 20 crianças que não são irmãos, para além dos cuidadores.
A pessoa que adormece a criança, por muito afetiva que seja, não é a mesma que a vai acordar no dia seguinte, que a vai acompanhar à escola. Há uma pluralidade de cuidadores que não permitem que a criança crie um laço privilegiado, por muito afetivos que sejam os técnicos e os cuidadores das instituições de acolhimento.
Como é que as famílias que acolhem as crianças são acompanhadas? Sabem sempre o contexto de quem vão receber?
São sempre informadas sobre o contexto e previamente são preparadas, recebem uma formação e são também avaliadas para verificar, não só se tem efetivamente as tais competências que lhes permitem dar esta resposta de família de acolhimento, como também aferir qual será o perfil da criança para as qual esta família estará capacitada para dar melhor resposta.
Depois há todo um acompanhamento por uma equipa que estará permanentemente a apoiar a família e a criança que lá está acolhida, no sentido de permitir e potenciar os efeitos que nós já sabemos e conhecemos que o acolhimento familiar tem nestas crianças: a segurança, o equilíbrio, capacidades potenciadoras do seu desenvolvimento, socialização, etc.
Quantas famílias já participaram no acolhimento familiar?
Neste momento temos 85 famílias avaliadas e selecionadas, das quais, neste momento, estão 65 ou 66 em exercício, com uma ou mais crianças acolhidas.
E como é que uma família se pode candidatar?
Tem que ser, em primeiro lugar, tocada por esta necessidade, por esta possibilidade de fazer a diferença na vida de uma criança. E depois, desde que preencha os requisitos que são mínimos (idade superior a 25 anos, habitação e condições que permitam proporcionar aquilo que uma família é para uma criança), pode ser uma pessoa só, podem ser dois, pode ser um casal ou duas pessoas ligadas por laços de parentesco que vivam em conjunto.