27 set, 2023 - 15:39 • Maria João Costa
Mesmo no meio da guerra da Ucrânia faz-se cinema. A prová-lo está “Vyrai”, um filme documental que tem estreia internacional em Lisboa, na 21.ª edição do Doclisboa e que conta a história de uma aldeia ucraniana destruída pela ofensiva russa e que se junta em comunidade para se reconstruir
É destes outros olhares sobre a atualidade que se faz o cartaz do Festival Internacional de Cinema que decorre de 19 a 29 de outubro na Culturgest, Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa e Cinema Ideal, em Lisboa.
O programa foi apresentado esta quarta-feira, na Culturgest e propõe um cartaz em que os números falam por si. São “250 filmes, 113 longas-metragens, 137 curtas-metragens, 39 filmes portugueses, 42 países e 9 primeiras longas-metragens”, explicou na conferência Miguel Ribeiro, diretor do Doclisboa.
Esta edição faz-se com “35 estreias mundiais, 26 estreias internacionais e duas estreias nacionais” referiu o diretor que considera cada filme “uma porta de entrada” para o cinema que se está a fazer agora, mas não só, já que esta edição apresenta uma retrospetiva sobre “os conturbados anos 30 na América do New Deal”.
“Documentário em Marcha” é, segundo o diretor da Cinemateca Portuguesa, “um grande acontecimento”, já que reúne em Lisboa uma das mais completas e vastas mostras de cinema do género. Trata-se, nas palavras de José Manuel Costa, de um momento “fundador” do cinema documental que contamina até hoje este tipo de produção.
Um filme inédito de Orson Welles intitulado “Portrait of Gina” será apresentado em estreia portuguesa no Doclisboa a 21 de outubro. Trata-se de “um episódio piloto para uma série de televisão que nunca aconteceu”, explica Miguel Ribeiro e que apresenta uma viagem que Welles fez por Itália à procura de Gina Lollobrigida e onde o realizador se cruza com personagens como Vittorio De Sica.
Este é um dos filmes que será apresentado na secção Heart Beat onde são exibidos outros filmes que retratam vidas de artistas bem conhecidos. Exemplo disso é “Rock Hudson: All That Heaven Allowed“, de Stephen Kijak que será apresentado a 27 de outubro na Culturgest ou “Viva Varda!”, de Pierre-Henri Gibert, um filme que reúne um conjunto de entrevistas à icónica realizadora Agnès Varda.
Nos retratos, Miguel Ribeiro destacou ainda um filme sobre a cantora Cyndi Lauper. “Let the Canary Sing” de Alison Ellwood é exibido dias 26 de outubro na Culturgest e dia 27 no Cinema São Jorge e outro sobre o vocalista dos Libertines, Peter Doherty que é mostrado dias 25 e 28 de outubro.
Em português, na secção Heart Beat é apresentado “Verdade ou Consequência?” de Sofia Marques, um documentário que já estreou no Porto, e que retrata a vida e obra do encenador Luís Miguel Cintra.
Na secção Verdes Anos, e em português marca-se o regresso a Edgar Pêra. O realizador regressa ao universo do poeta Fernando Pessoa. “Não Sou Nada – The Nothingness Club” estreia dia 25 de outubro na Culturgest e propõe um thriller em torno do universo pessoano e tem como protagonistas os atores Albano Jerónimo e Vitória Guerra.
Já teve problemas no passado com o regime chinês, mas prefere não falar disso. O realizador chinês Wang Bing participou esta quarta-feira na apresentação do Doclisboa de forma remota. O cineasta cujo filme fará a sessão de abertura do festival explicou que a atual “situação política e económica está em grande mudança” e que por isso não sabe o que irá filmar no futuro. Foi a forma que encontrou para responder sobre se irá voltar a rodar na China.
Certo é que o filme que apresenta em estreia em Lisboa, “Man in Black” foi filmado em França, na Ópera de Paris e faz um retrato de Wang Xilin, um compositor chinês de 86 anos “que trabalhou sempre com a raiva de viver com um Estado de repressão”, explica o diretor do Doclisboa.
Sobre o seu filme, Wang Bing conta que quis retratar a vida de um “amigo de há 20 anos” que foi viver para a Alemanha e que “teve grandes dificuldades” a adaptar-se à vida naquele país.
Já o encerramento do Doclisboa será em português. “Baan” é o novo filme da realizador Leonor Teles que estreia no fecho do festival. À Renascença, a cineasta premiada conta que este foi um filme que teve alguns percalços na rodagem, já que foi filmado em plena pandemia o que obrigou a algumas mudanças.
“Baan” é a palavra que em tailandês quer dizer “casa”, explica Teles que indica que este é um filme que fala do problema da habitação que afeta a sua geração, mas que tenta ir mais longe e olha para a casa “como um lugar de procura emocional”.