15 nov, 2023 - 16:04 • Daniela Espírito Santo
"Vivemos em tempos de liberdade condicionada". Quem o admite é Cristina Ferreira que voltou, esta quarta-feira, à Web Summit e não se coibiu de falar sobre a polémica que afetou o certame. Segundo a apresentadora da TVI, temos cada vez mais "medo do que os outros vão comentar" e "não somos livres de publicar o que queremos" e, por exemplo, mostrarmos a nossa opinião oficial "sobre uma guerra". "Nem preciso de falar do que aconteceu aqui na Web Summit...", desabafa.
"Estamos todos a viver num clima de receio de sermos nós próprios", acrescenta.
No seu quarto discurso no evento, a também empresária deixou em casa as bifanas e as estacas e não arriscou falar em inglês. Decidiu falar sobre o tema do momento, a inteligência artificial, apesar de admitir que não percebe nada do assunto e até rejeitar esta tecnologia.
"Querem levar-me a 500 reuniões sobre IA e eu ainda não quero", assume, antes de confirmar que a primeira reunião na TVI sobre o tema acontece já "esta quinta-feira".
Utilizando, no entanto, o assunto da moda decidiu conversar sobre "como sermos inteligentes nas redes sociais" e como todos nos tornamos, no final de contas, artificiais.
"O mundo tecnológico deu-nos muitas vantagens, mas também precisamos de perceber o que nos retirou", começa por dizer, admitindo que somos - quase todos - "dependentes das redes sociais".
Criticando, em especial, os jornalistas, assumiu que, nos textos que vê, "a maiorparte das perguntas não foram feitas". A "culpa" é, também, de quem consome, admite a administradora executiva da Media Capital Digital e diretora de entretenimento e ficção da TVI. "Habituamo-nos a fazer tudo pela rama", confessa, criticando em especial a "nova geração de profissionais da TV", que é "menos criativa, menos ávida de conhecimento" e "menos capaz de entender o outro".
O "casamento" com o diretor-coordenador da Media Capital Digital, Ricardo Tomé, também foi mencionado, com Cristina Ferreira a assegurar que a fórmula é vencedora porque ele é "de números" e ela é o oposto. "Eu sou a emoção", diz.
Sobre a "revolução tecnológica", diz fazer parte da geração que "teve a felicidade de assistir de perto" à sua génese mas, por isso, "não sabemos se o estamos a fazer bem ou não".
"Estamos a usar a nossa inteligência para nos darmos a conhecer uns aos outros ou estamos a ser artificiais?", questiona.
Usou o ChatGPT para preparar o seu discurso mas não gostou do resultado porque o que encontrou não tinha "qualquer tipo de emoção". "O que eu pedi à máquina não tinha lá o que eu vivi", entende, assumindo-se assustada com a possibilidade da tecnologia nos "retirar o que somos, o que vivemos e o que sonhamos".
"O que eu espero do outro é que seja único", terminou, deixando um "ponto" para a plateia: "É preciso usarmos cada vez mais a inteligência e deixarmos de ser artificiais", remata.
[notícia atualizada às 19h34 de 17 de novembro de 2023]