22 nov, 2023 - 19:15 • Maria João Costa
“Era o primeiro a entrar em cena e o último a sair”. É assim que o jovem realizador Tiago Durão descreve o trabalho no plateau, durante as rodagens com o ator Ruy de Carvalho. Aos 96 anos, e somando 80 anos de carreira, o ator é o coprotagonista do filme “O Misterioso Caso de Lázaro Lafourcade” que estreia nas salas de cinema quinta-feira.
Ruy de Carvalho dá vida ao patriarca Lázaro Lafourcade, e contracena com atores como José Raposo, Dalila Carmo, Pedro Lamares, Maria José Paschoal, Lídia Muñoz, Isac Graça, Ruben Gomes, Guilherme Barroso e Erica Rodrigues.
Em entrevista ao Ensaio Geral, o realizador Tiago Durão conta que Ruy de Carvalho, foi, como esperava “super profissional, como sempre”.
“Chegava na sua hora, sabia perfeitamente o seu texto e o dos outros. O Ruy faz uma coisa muito curiosa quando acaba a cena dele. Já não vai aparecer mais, mas não se quer ir embora. Quer ficar a dar o texto aos outros atores, a contracena, mesmo que não esteja a ser filmado”, conta Tiago Durão.
O realizador lembra o sentido de gratidão dos outros atores para com Ruy de Carvalho. “É importante para os outros atores, e olham para o Ruy com uma grande admiração, grande respeito, bebendo aquilo que o Ruy está a dizer, ou mesmo o seu silêncio”.
Tiago Durão que venceu em 2022 o Prémio Sophia com o documentário, “Eunice ou Carta a uma jovem atriz”, sobre Eunice Muñoz, lembra que o Ruy de Carvalho, “é um ator muito exigente”. “Quem está a realizar e dirigir tem que saber muito bem para onde é que quer levar o Ruy, porque ele faz perguntas difíceis”.
O cineasta que diz não ter tido de repetir cenas com o Ruy de Carvalho recorda “uma história curiosa”. “Quando o Ruy chegou para fazer a sua cena, chama-me e pergunta-me: “Então, filho, qual é o compasso deste filme? Isto é um compasso ternário ou quaternário? Nunca me tinham perguntado isto. E fazia todo o sentido perguntar ali porque o Ruy queria saber a cadência e o ritmo do filme para se poder encaixar”, recorda.
Depois da antestreia no dia 20, no Cinema São Jorge, em Lisboa, que reuniu a comunidade artística, o filme chega agora às salas de cinema. O filme conta a história de um “velho patriarca capitalista que chama a família, os seus descendentes, para a sua mansão no campo e convenientemente, acorda morto na manhã seguinte”, conta Durão.
O filme em tom de comédia satírica, conta com José Raposo no papel de investigador que vai tentar descobrir o que se passou no “Misterioso Caso de Lázaro Lafourcade”. “O crime é um pretexto apenas para falar sobre a família, porque todos eles têm um passado sórdido e numa forma muito cómico-trágica ou muito satírica, vamos falando sobre esta família em que o vilão é o capital”, conclui o realizador.