19 jan, 2024 - 16:45 • Maria João Costa
José Luís Peixoto conta que em Galveias vivem pouco mais de mil pessoas. O autor é, certamente o cidadão mais conhecido e reconhecido da vila alentejana, onde nasceu há 50 anos. Por isso, a Junta de Freguesia dedica-lhe agora um Centro Interpretativo que é inaugurado domingo com pompa e circunstância.
O projeto nasceu há dois anos e ganha agora corpo naquela vila do concelho de Ponte de Sor. Instalado numa antiga casa senhorial de 3 andares, o centro vai mostrar o espólio do autor de “Morreste-me”.
O centro vai ter “materiais pessoais, como manuscritos e fotografias”, mas juntará também “obras de artes plásticas de pintores de Galveias que ilustram o que está lá exposto”, indica Peixoto acrescentando ainda que há “outros materiais multimédia”.
Em entrevista ao Ensaio Geral, da Renascença, José Luís Peixoto explica que o projeto lhe “foi proposto pela Junta de Freguesia de Galveias” e que aceitou por considerar que poderá trazer “vantagens” a Galveias.
“Estamos a falar de uma vila no Alto Alentejo, que luta com muitas dificuldades no que diz respeito a reter população e atrair visitantes. Foi um pouco nessa medida que se avançou com este projeto que incluiu a recuperação de um edifício de 3 andares, uma antiga casa senhorial, com uma área imensa e que, além de ter este centro de interpretação, tem também espaço para que sejam desenvolvidas ali outras atividades ao nível da cultura”.
José Luís Peixoto vê como uma “mais-valia para Galveias”, este centro ter também essa dimensão de polo cultural. “Atrai-me bastante”, refere o autor que já pensa usar o centro como palco para lançamentos de livros e outros eventos de natureza cultural.
Questionado sobre o lugar que Galveias ocupa na sua escrita, José Luís Peixoto diz ter “dificuldade em definir realmente que tipo de entidade Galveias é” nos livros seus, e na sua vida.
“Galveias tem uma presença muito marcante e estruturante para mim. Na verdade, tenho escrito sobre diversos temas e sobre diversos lugares, mas há alguma coisa verdadeiramente diferente na hora de escrever sobre Galveias, porque a minha ligação com Galveias é profunda”, refere, sublinhando: “Muitas vezes sinto que esse é o maior património de que disponho do ponto de vista narrativo”.
“Essa é a grande história que tenho para contar e, efetivamente, sinto que ainda tenho muito para escrever sobre Galveias. Ainda tenho muitas memórias vivas do tempo que lá passei”, admite o escritor. José Luís Peixoto considera que em Galveias há “ainda história a acontecer” que pode vir a ser plasmada nos seus futuros livros.
Além do Centro Interpretativo, vai este domingo também ser inaugurada uma Rota Literária Galveias. Na base do percurso que será feito pela vila está o livro que José Luís Peixoto escreveu em 2014.
“Galveias” é o livro de ficção que o autor, vencedor do Prémio José Saramago, lançou sobre a ruralidade portuguesa. Segundo Peixoto esta rota vai levar às ruas da vila “pontos de ligação” com a obra do autor.
“Tem também alguma explicação histórica, alguma contextualização desses lugares, com o intuito de que Galveias seja um lugar que, de certa forma, possa ser representativo também de uma vila alentejana com a sua história concreta”, explica o autor.