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Entrevista a Miguel Guedes

Coliseu do Porto "tem sido olhado como parente menos rico da família cultural portuguesa"

26 fev, 2024 - 21:17 • Maria João Costa

Há um ano à frente daquele equipamento cultural do Porto, Miguel Guedes diz que é tempo de “respirar depois de sobreviver”. O fim da concessão a privados e o arranque das obras estruturais do telhado dá novo alento ao diretor artístico que, para os 50 anos do 25 de Abril, planeia um concerto de homenagem ao último espetáculo de Zeca Afonso no Porto.

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Miguel Guedes diz que “é preciso respirar depois de sobreviver”. Há um ano à frente do Coliseu do Porto Ageas, o diretor artístico refere-se assim ao fim da concessão da sala a privados, que esteve em vias de acontecer, e ao que aí vem.

Em entrevista à Renascença, Miguel Guedes diz que o “paradigma” da concessão “morreu, faleceu, enterrou-se” e com isso abre-se uma nova forma de pensar aquele equipamento cultural. Desde logo o avanço para as obras estruturais.

O Coliseu não sobreviveria a outro inverno” aponta. Segundo Miguel Guedes, as obras que arrancaram são feitas “ao abrigo do Programa Europeu Norte 2030” e o acordo com a Área Metropolitana do Porto permitiu isso mesmo, de “ter o destino [do Coliseu do Porto] nas mãos”.

Miguel Guedes está apostado em dar ao Coliseu um caráter de “equipamento nacional” e olha para a cultura como “um pedaço de transformação”. Ainda assim, o diretor artístico daquela sala icónica lamenta que o Estado tenha “sempre olhado” para o Coliseu “como um parente menos rico de toda a família cultural portuguesa”.

Em tempo de eleições legislativas, questionado sobre o que diria a um novo ministro da Cultura, o responsável não só o convidaria a visitar “mais” o Coliseu, como o desafiaria a dotar “da possibilidade de fazer mais e melhor” aquela sala.

“Há muito a fazer na relação do Estado com os seus equipamentos. Tem de deixar de olhar para eles apenas e só pelo simples facto de ser seu proprietário, mas também olhar para eles pelo facto de serem agentes de uma atividade cultural que porventura, o Estado não pode, nem deve promover”, sublinha.

Na opinião de Miguel Guedes, o Coliseu tem a possibilidade de ser uma importante casa cultural, não só para a região, mas também para o país. O diretor artístico, que lançou o novo serviço educativo, quer também desenvolver mais parcerias com outros equipamentos culturais do Porto.

Além de já ter em marcha um projeto com a Irmandade dos Clérigos, Miguel Guedes defende a criação de um “vale cultural” no centro do Porto. Recuperar a centralidade do Coliseu passa, na opinião do também músico, por ativar um eixo cultural “de São Lázaro até ao Carlos Alberto ou ao Museu Nacional Soares dos Reis”.

Ele que recorda o “consulado de Rui Rio” no Porto como “culturalmente empobrecedor”, diz que vê agora “crescer rosas no deserto”, e nesse sentido mostra-se apostado em atrair para o Coliseu um público diversificado.

Mostra uma “preocupação gigante em criar públicos”, diz mesmo que o serviço educativo é uma peça “de cimento” fundamental para dar nova centralidade aquela sala de espetáculos que já completou 82 anos.

Sobre programação, Miguel Guedes olha em particular para as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974. “Por mais que alguns tentem ultrapassar pela esquerda, ou pela direita, os 50 anos do 25 de abril são inultrapassáveis”, sublinha.

Uma das apostas em termos de programação, além de um ciclo de debates, durante três meses, em torno da liberdade, e de um ciclo de cinema sobre migrações, Miguel Guedes prepara um espetáculo que fará homenagem ao último concerto do músico Zeca Afonso.

Será uma “evocação do último concerto de Zeca Afonso no Coliseu do Porto”, explica, e será um “concerto emotivo que terá gente que esteve nesse concerto, e uma segunda parte com artistas contemporâneos a revisitarem o cancioneiro de Zeca Afonso”, indica Miguel Guedes em entrevista à Renascença.

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