05 mar, 2024 - 19:57 • Lusa
O quadro "Descida da Cruz", de Domingos Sequeira (1768-1837), encontra-se exposto para venda na Feira de Arte e Antiguidades da European Fine Art Foundation (TEFAF), em Maastricht, nos Países Baixos, que abre ao público no sábado.
Contactado pela agência Lusa, o galerista Mário Roque, da Galeria de São Roque, representado nesta edição do certame de arte e antiguidades, um dos mais importantes do mundo, confirmou a presença da pintura no expositor da galeria madrilena Colnaghi, numa altura em que terminam os preparativos para a pré-abertura, na quinta e sexta-feira.
O semanário Expresso noticiou hoje que a obra - cuja saída de Portugal está envolta em polémica desde o final de 2023, quando a então Direção-geral do Património Cultural decidiu autorizar a saída do país, contrariando pareceres de especialistas - se encontrava já exposta na TEFAF.
""Descida da Cruz" de Domingos Sequeira está logo à entrada do expositor da Galeria Colnaghi", confirmou Mário Roque à Lusa, sobre a presença da peça, que os proprietários portugueses entregaram para venda no final de 2023, depois de ter recebido uma autorização de saída de Portugal, justificada pela "inexistência de qualquer ónus jurídico".
O quadro a óleo é da autoria de Domingos Sequeira (1768-1837), pintor português que, devido ao seu talento, conseguiu proteção aristocrática e uma bolsa para se aperfeiçoar em Roma, onde privou com vários mestres e conquistou diversos prémios académicos.
A secção portuguesa do Conselho Internacional de Museus (ICOM-Portugal) manifestou em fevereiro, junto do Governo, indignação com a condução do processo que levou à saída do país do quadro e exigiu respostas oficiais, e anteriormente, um grupo de 12 especialistas da área do património também dirigiu uma carta aberta à tutela manifestando repúdio pela condução do processo.
Nessa altura, em resposta à missiva dos 12 especialistas - entre os quais os historiadores de arte Raquel Henriques da Silva, António Filipe Pimentel e Victor Serrão -, a secretária de Estado da Cultura, Isabel Cordeiro, assegurou estarem em curso "todos os esforços" para conhecer as "eventuais condições de compra" da obra.
Por seu turno, o presidente da Associação Portuguesa de Museologia (APOM), João Neto, mostrou-se, na mesma altura, contra a aquisição pública da pintura "Descida da Cruz", avaliada em 1,2 milhões de euros, num contexto em que o Estado se encontra "refém de interesses especulativos".
O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, chegou a afirmar que a autorização de saída da pintura se tratou de uma "lamentável falha dos serviços" por parte da DGPC, substituída no início do ano pela Museus e Monumentos de Portugal (MMP), no âmbito de uma reorganização orgânica do setor do património.
Contactada hoje pela Lusa sobre a presença da pintura na TEFAF e o ponto da situação dos esforços de aquisição pelo Estado português, a MMP respondeu: "Não existe informação nova a partilhar sobre o processo negocial em torno das obras de Domingos Sequeira".
A Galeria São Roque é uma das portuguesas presentes na TEFAF deste ano, a par da Jorge Welsh, ambas de Lisboa, e da Galerie Mendes, fundada em Paris, em 2007, pelo galerista luso-francês Phillippe Mendes, entre 260 galerias de vinte países.
Nesta edição, as peças escolhidas pela Galeria de São Roque abrangem vários períodos históricos e contextos culturais, centrando-se principalmente na Expansão Portuguesa, com obras provenientes das então províncias do norte do Estado português da Índia, como Gujarate, Chaul, Taná e Sinde, mas também de Ceilão e do Sião ao Japão, como sacrários, espelhos e tabuleiros de jogos da época.
Arte antiga, moderna e contemporânea, pintura, escultura, desenhos e iluminuras, fotografia, manuscritos, livros, joalharia e objetos de ´design´ de todo o mundo são anualmente apresentados na feira de arte e antiguidades de Maastricht, organizada pela TEFAF desde 1988, recebendo anualmente mais de 80 mil visitantes, entre curadores, diretores e conservadores de museus, peritos de leiloeiras, antiquários e colecionadores.
A TEFAF concedeu, em 2017, cerca de 25.000 euros ao Museu Nacional de Arte Antiga, para apoiar os trabalhos de restauro dos azulejos dos séculos XVII a XVIII da Capela das Albertas, parte do edifício, em Lisboa.