07 mar, 2024 - 14:11 • Maria João Costa
Depois do livro de poesia, Sérgio Godinho regressa ao romance com “Vida e Morte nas Cidades Geminadas” (Ed. Quetzal). O livro cruza a vida de duas personagens e de duas cidades. Depois de Coração Mais Que Perfeito publicado em 2017 e Estocolmo em 2019, o músico volta a falar de amor.
Sérgio Godinho escreveu uma trama que fala também de emigração. No epicentro da ação está a vida de Amália, “que também se chama Rodrigues”, diz o autor em entrevista ao programa Ensaio Geral, da Renascença que logo acrescenta “porque o pai se chamava Rodrigues”. Esta rapariga emigra com 16 anos para França com os pais.
Natural de Guimarães, Amália Rodrigues vai viver para os arredores de Paris para Compiègne, uma cidade geminada, como diz o título, com a sua cidade natal. É aí que “conhece, depois de ter conhecido outros amores, mas não muitos, um rapaz chamado Cédric também da mesma idade que ela”.
E tal como canta Sérgio Godinho, em “Às vezes o amor”, aqui também acontece esse “amor súbito” entre Amália e Cédric. Ambos têm caráter e vidas muito distintas, explica o autor. Cédric “trabalha numa morgue, ou seja, há aqui esta espécie de contraste com a vida”, diz Godinho acrescentando que Amália “está a estudar hotelaria, e vai mais tarde ser gerente de um hotel em Guimarães”.
O escritor lembra que “um hotel é um local de vidas efémeras passageiras, porque as pessoas vão e vêm”, paralelamente, o local de trabalho de Cédric, a morgue “é também, no fim de contas, um lugar de passagem, porque as pessoas não ficam lá, não são lá enterradas”.
Em “Vida e Morte nas Cidades Geminadas”, Amália é, tal como a outra Amália Rodrigues, cantora de fado, mas “de fado amador num restaurante português” em França, explica Sérgio Godinho.
Mas neste amor entre Amália e Cédric em que “descobrem, com grande surpresa, que são ambos do signo de gémeos, do mesmo dia e do mesmo ano”, nem tudo corre bem. Há diferenças entre eles e surpresas, nomeadamente uma “suspeita” que se abate sobre Cédric, avança Sérgio Godinho, sem entrar em pormenores que podem estragar a leitura.
“Vida e Morte nas Cidades Geminadas” cruza assim um amor que a certa altura acontece à distância, entre dois países e entre duas personagens “bastante diferentes”. “Ela é extrovertida, espontânea, tem poucas leituras. O Cedric é mais reflexivo, pensa muito, até porque começa a olhar para os mortos e começa a pensar que vidas houve, que vidas há para lá daquele momento da morte e o que fica”.