17 mar, 2024 - 20:48 • Ricardo Vieira , Fátima Casanova
O poeta, ficcionista, ensaísta e professor universitário Nuno Júdice morreu este domingo, em Lisboa, vítima de doença. Tinha 74 anos.
O velório realiza-se terça-feira a partir das 18h00, nas Capelas Exequiais da Basílica da Estrela, em Lisboa. A missa de corpo presente está agendada para quarta-feira às 14h00. O funeral segue depois para o Cemitério dos Prazeres, em Lisboa
Nuno Júdice nasceu no Algarve, em 1949, e assumiu em 2009 a direção da revista Colóquio-Letras da Fundação Calouste Gulbenkian.
Publicou o primeiro livro "A Noção de Poema", em 1972, e é um dos mais importantes nomes da poesia contemporânea.
Recebeu os mais importantes prémios de literários nacionais e internacionais, entre os quais: Pen Clube (1985), Prémio D. Dinis da Fundação da Casa de Mateus (1990), da Associação Portuguesa de Escritores (1995), Bordalo da Casa da Imprensa (1999), Cesário Verde e Ana Hatherly (2003) e Fernando Namora (2004).
Em 2013, foi distinguido com o XXII Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana (Espanha); em 2014, com o Prémio de Poesia Poetas del Mundo Latino Víctor Sandoval (México); em 2015, com o Prémio Argana de Poesia, da Maison de la Poésie de Marrocos e o Prémio Literário Fundação Inês de Castro – Tributo de Consagração; e, em 2016, com o El Ojo Crítico Iberoamericano de Radio Nacional de Espanha.
A Presidência da República já lamentou a morte de Nuno Júdice, "um autor decisivo numa época de transição da poesia portuguesa, entre as tendências experimentais da década de 1960 e o tom mais quotidiano dos anos 80 e seguintes".
Numa nota publicada no site da Presidência, o gabinete de Marcelo Rebelo de Sousa refere que "mesmo no contexto da geração de 70, a que pertencia, não se parecia com nenhum outro, com os seus versos por vezes longos, discursivos, meditativos, o tom tardo-romântico, as interrogações sobre a noção de poema, mais tarde o pendor evocativo, melancólico ou irónico".
O Palácio de Belém destaca Nuno Júdice como "um dos mais prolíficos poetas portugueses", um dos mais traduzidos "mais reconhecido internacionalmente".
"À sua família, e em especial à sua mulher, Manuela Júdice, o Presidente da República manifesta o seu sincero pesar e a sua gratidão e homenagem", conclui Marcelo Rebelo de Sousa.
O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, lamenta a morte do escritor Nuno Júdice,” autor de uma extensa obra que abarca a poesia, o ensaio e o romance”.
“Atingiu particular reconhecimento pela sua obra poética, marcada por uma linguagem lírica e por profunda introspeção, tendo recebido numerosos prémios literários nacionais e internacionais”, refere o governante, numa nota de pesar.
Além do conjunto da literatura, Nuno Júdice “deu também uma contribuição decisiva para o debate cultural no nosso país desde o final dos anos 1960, sendo um destacado académico e crítico literário”, sublinha o ministro da Cultura.
Guilherme d’Oliveira Martins, administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian, trabalhou com Nuno Júdice na revista “Colóquio-Letras” e recorda “um dos nossos maiores poetas, reconhecido internacionalmente”, nomeadamente o Prémio Rainha Sofia, um dos maiores galardões de poesia nas línguas ibéricas.
“Nuno Júdice era muito discreto, mas com um talento absolutamente único no que se refere à literatura, à poesia, ao ensaio, tudo aquilo que ele nos deixou”, destaca Oliveira Martins, em declarações à Renascença.
“É uma perda muito grande porque havia muito a esperar dele. Havia trabalhos que estavam em curso e que ele manteve até ao último minuto”, lamenta.
A editora Dom Quixote, do grupo Leya, recebeu a notícia da morte do poeta com "com profundo pesar e sentida consternação".
"Uma notícia que abalou todos os que trabalharam mais de perto com Nuno Júdice mas, com toda a certeza, todos os seus muitos leitores e admiradores. E que sem dúvida deixa mais pobre a literatura e a poesia portuguesas", refere a chancela, em comunicado.
A obra de Nuno Júdice abarcou "todos os géneros literários, da poesia ao ensaio, do conto ao romance", assinala a Dom Quixote, que recorda o último livro publicado o ano passado, "Uma Colheita de Silêncios", "recebido pela crítica com grande entusiasmo e aclamação".
A Quetzal Editores também já lamentou a morte de Nuno Júdice, que "ocupa um lugar único e que nunca será ocupado".
"Hoje, lemos um poema seu. Leremos sempre um poema seu. A Quetzal está triste – e acompanha a família do poeta neste adeus sem fim, lembrando “a vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua / mais que perfeita imprecisão”, refere a editora.