18 abr, 2024 - 07:00 • Maria João Costa
É uma viagem no tempo, até à primeira exposição que Paula Rego realizou em 1965, na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa. A mostra que inaugura quinta-feira, na Casa das Histórias em Cascais, reconstitui a exposição que a artista realizou ainda em tempo de ditadura.
“Paula Rego: Manifesto” é uma mostra com a curadoria de Catarina Alfaro e Leonor de Oliveira que têm em mãos a realização de um catálogo “raisonné” da artista. No trabalho de aprofundada pesquisa e depois de vários anos conseguiram localizar a quase totalidade das peças que integraram a exposição de 1965.
Em entrevista ao Ensaio Geral, da Renascença, Salvato Teles de Menezes, presidente da Fundação D. Luís I, explica que esta “réplica” da exposição agora apresentada integra “18 das 19 obras que foram expostas” em 1965.
“É um regresso ao passado, porque nós temos aqui, mais ou menos, a réplica dessa grande exposição individual da artista feita na Sociedade Nacional de Belas Artes, em 1965. Foi um trabalho excecional que as duas curadoras fizeram, porque conseguiram fazer a identificação de todas essas obras e obter, com o apoio da Fundação D. Luís e da Câmara de Cascais, a concordância dos proprietários para as poder agora exibir”, explica.
Segundo Salvato Teles de Menezes, só ficou por localizar a obra “Cães de Barcelona” que, na sua opinião, “seria importante” integrar a exposição, mas que “foi impossível saber onde é que está localizada neste momento”.
“É uma obra absolutamente fundamental, porque a própria Paula Rego a considerava uma das suas obras mais importantes, e tem uma carga e uma dimensão política fortíssima”, adianta Salvato Teles de Menezes.
Esta primeira exposição de Paula Rego agora reconstituída está integrada nas celebrações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, no Bairro dos Museus em Cascais. À época, apesar do seu caráter político, o trabalho da artista escapou ao crivo da censura.
Salvato Teles de Menezes recorda que aquele período da exposição “coincidiu, mais ou menos, com a morte do General Humberto Delgado”, altura em que o Estado Novo até tinha, na sua opinião “uma expressão mais apertada em termos de censura”.
Contudo, o responsável da Fundação D. Luís, sublinha que “o caráter experimental da obra de Paula Rego permitiu passar entre os pingos de chuva da censura”.
“A exposição foi feita com esse grande experimentalismo plástico que permitiu, de facto, ultrapassar essa censura, que provavelmente não teve a consciência exata daquilo que estava ali, da contestação que estava subjacente àquelas obras que eram mostradas”, avança Salvato Teles de Menezes.
A exposição “Paula Rego: Manifesto” que integra peças que de coleções privadas portuguesas, francesas e inglesas, bem como telas dos espólios de instituições nacionais, como a Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação de Serralves pode ser visitada em Cascais até 6 de outubro.