03 mai, 2024 - 06:08 • Maria João Costa, enviada especial a Buenos Aires
É um repto do diretor da Feira do Livro de Buenos Aires. Questionado pela Renascença sobre o que diria ao presidente argentino Javier Milei, Alejandro Vaccaro pede que “dê mais prioridade à cultura, porque ela tem retorno”.
Na inauguração da Feira do Livro de Buenos Aires, Vaccaro que é também presidente da Fundación El Livro, mostrou desagrado quanto à intenção de Milei querer apresentar o seu livro no certame. Isso gerou mal-estar entre Vacarro e Milei e levou o presidente argentino a decidir que afinal não vai apresentar o livro na feira.
Em declarações depois de ter participado numa apresentação, ao lado de Carlos Moedas, no Pavilhão de Lisboa, Vaccaro explicou que “o presidente argentino é economista, dá muito enfase às questões económicas, fala de inflação que, claro, preocupa sem dúvida os argentinos”
Contudo, o também presidente da Sociedade Argentina de Escritores recorre das palavras do autarca de Lisboa para dizer que, tal como Moedas, também para ele a cultura é “investimento e não um custo”.
Mas Vaccaro continua a atacar Javier Milei: “Sabemos que a cultura não dá votos imediatos, e ele deve estar a pensar nas eleições legislativas do próximo ano. Se investe em cultura só daqui 5 a 6 anos terá retorno. Que o faça na mesma, porque os jovens de hoje, são os que vão ocupar estes lugares no futuro”, diz o responsável da feira do livro.
“Nós não partilhamos das políticas culturais que o Governo leva a cabo, já o manifestamos com todo o respeito que merece um presidente eleito”, acrescentou Vaccaro que classifica de “repentina” a ideia de Milei desistir de apresentar o livro no evento.
“Ele pediu para apresentar um livro na feira, nos recebemos os seus delegados, não tivemos de acordo em relação a tudo, mas ele acabou por tomar essa decisão repentina de não vir aqui apresentar o livro e ir para outro sítio”, esclarece.
Falando sobre a atual situação da Argentina, Alejandro Vaccaro refere que existe “um contexto socioeconómico complexo. O país atravessa uma série de problemas que afetam a 100 por cento as indústrias e atividades, e a indústria do livro não escapa”
Reconhece que “há necessidades de primeira ordem. Todos têm de comer, ter casa, mas o investimento na cultura tem de ser irrecusável” sublinhou.
Questionado sobre os preços dos livros praticados na feira, Vaccaro diz que “os níveis de venda de livros são semelhantes aos de anos anteriores, mesmo numa altura em que a situação económica é pior”.
Questionado sobre a presença de Lisboa, o responsável mostra-se muito “grato e surpreendido”. “Lisboa respondeu muito bem. Foi das 10 cidades convidadas, a melhor. Vir de Portugal aqui custa muito, mas realmente o desejo e a vontade de fazer uma programação que se estendeu a fora das fronteiras da feira concretizou-se”.