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ARCOlisboa

Reparações históricas? Diretora da ARCO diz que “não devemos ter pressa”

23 mai, 2024 - 08:30 • Maria João Costa

A ARCOlisboa abre dia 23 na Cordoaria Nacional. Além das 84 galerias de 15 países, a feira olha também para a arte africana criada na diáspora. À Renascença, a diretora diz que a arte “está a fazer as perguntas que o presente pede”.

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A ARCOlisboa completa sete anos. Esta edição da Feira de Arte Contemporânea que decorre de 23 a 26 de maio, na Cordoaria Nacional, conta com 84 galerias de 15 países. Em entrevista à Renascença, a diretora da ARCO, faz um balanço positivo da feira em Lisboa.

Maibel López diz que houve grandes mudanças na cena artística portuguesa nos últimos anos, novos museus e um maior interesse de colecionadores. A responsável da ARCO lembra que apesar de haver maior procura de galerias internacionais pela feira de Lisboa, o evento não perde o foco na arte portuguesa.

Num ano em que a ARCOlisboa tem um programa centrado nas relações entre África e a diáspora africana em várias latitudes, a Renascença questionou Maribel López sobre a questão muito debatida ultimamente das reparações históricas. A diretora diz que a arte contemporânea está a fazer “as perguntas que o presente pede”, mas ressalva que no que toca às reparações “não devemos ter pressa”.

Sétima edição, a ARCOlisboa tem vindo a confirmar-se como um evento que marca a cena artística portuguesa. Que novidades há na feira este ano?

É muito emocionante cumprir 7 anos aqui em Lisboa, onde a feira vai crescendo, assim como vai crescendo a cena artística que é algo muito importante para a ARCO. Apresentam-se 84 galerias de 15 países, e acho que algo muito especial nas feiras são as novidades apresentadas nos stands de cada galeria que cada vez mais se preocupam em fazer uma curadoria mais desenvolvida.

Creio que veremos projetos muito interessantes, tanto no “Programa Geral”, como nos projetos Solo que inauguramos no ano passado e que repetimos, acrescentando mais projetos individuais de artistas.

Também na secção “Opening Lisboa” temos novas entradas que nos explicam novas formas de expor e temos o projeto “As Formas do Oceano”, que vem do projeto “África en Foco”, mas que transformamos numa ideia mais pan-africana, da diáspora e virada para o Brasil com uma co curadoria. Vai haver mudanças, novidades e muitas variedades que tentam explicar a história da arte contemporânea.

Podemos dizer que a ARCOlisboa está mais internacional? Mais virada para o Atlântico e as suas ligações?

Sem dúvida! Está a fazer as perguntas que o presente nos pede. Olhar os outros, ver como nos relacionamos, isso, sem dúvida. Mas também é verdade que é muito importante para a ARCOlisboa a maneira como reflete a cena de arte portuguesa.

Isso é algo que nunca queremos esquecer, porque é a origem deste projeto. É uma cena artística, como esta galeria Quadrum, onde estamos a falar, onde vemos muitos artistas portugueses com um trabalho muito interessante. Isso é algo que, como organização, temos sempre de ter muito presente.

Porquê?

É fácil pensar na internacionalização, mas nunca nos podemos esquecer da cena artística portuguesa.

E como olha a criação artística portuguesa contemporânea, sobretudo fazendo um balanço destes 7 anos em que a ARCO está em Lisboa? Como é que evoluiu?

É a sorte de fazer este trabalho. Sempre me pareceu uma criação artística muito, muito interessante. A qualidade dos artistas, a qualidade das galerias, o compromisso dos colecionadores com os criadores, sempre me pareceu muito excecional.

Quando olhávamos de fora, pensávamos que por vezes não valorizamos o suficiente o que é nosso. Nestes 7 anos, além do crescimento do número de galerias que acho que é muito notável, e que se reflete na ARCOlisboa, porque a cada ano há uma nova galeria na secção “Opening” que depois passa a fazer parte do Programa Geral. Acho que essa é uma das grandes mudanças.

Mas também a nível institucional. Abriu o MAAT, e em breve será inaugurado o novo museu Gulbenkian. Quer dizer que também a nível institucional, vivemos esse crescimento, e confio que também a nível de colecionadores faz-se tudo para que os artistas tenham mais visibilidade. Vimos esse crescimento nestes anos!

Vão trazer a Lisboa 150 convidados. A ARCOlisboa é atrativa para os colecionadores internacionais?

Sim, e por dois motivos. Um é o motivo pelo qual a equipa trabalha, que são os conteúdos que a cada ano estão melhores. Depois temos de ter em conta que estamos em Lisboa e vir a Lisboa para os nossos convidados é uma vantagem!

Porque é que a cidade em si, é uma vantagem?

Porque é um local maravilhoso, a que adoram vir! A coincidência entre História e modernidade é algo muito especial nesta cidade e os colecionadores gostam muito de vir aqui. São pessoas sensíveis, que se interessam pela História e pelo futuro, e acho que isso é uma das coisas a nosso favor.

É essa combinação. Além do próprio espaço onde acontece a feira, a Cordoaria Nacional. Quando alguém que nunca lá esteve entra pela primeira vez, vê se não se parece com nenhuma outra feira de arte. Não há nenhuma feira que seja parecida com a ARCOlisboa!

Todas estas coisas, tornam muito interessante vir a Lisboa. E penso que há algo muito importante que é a forma como o panorama artístico português se reflete nas instituições. Isso, para os visitantes que vêm do estrangeiro interessa-lhes muito, porque permite que saiam com uma ideia, mesmo que seja superficial numa visita, mas é uma ideia e que lhes interessa muito.

A ARCO vai mostrar a criação de artistas africanos contemporâneos, isto numa altura em que numa altura em que na Europa se debate a questão das reparações históricas. Como é que a diretora da ARCOlisboa vê essa questão?

É um tema muito complicado. Gostava de ter mais capacidade para a questão. Acho que é um tema muito complicado que vai exigir muita reflexão a longo prazo. Têm de ser reflexões que vêm de longe e que pouco, a pouco, vão tomar uma forma e chegar a algumas conclusões.

Acho que não devemos ter pressa. Tem de ser uma reflexão séria. Quando numa feira falamos dessa ideia e decidimos mudar o foco, queremos explicar. Temos de ter consciência de muitas coisas da História. Acho que como diretora da feira é até aí que posso refletir. Deixo para os intelectuais e para outros, as conclusões!

E está muito viva a cena artísticas africana e da américa latina?

Sim, muito. E o importante, neste caso, como a dimensão da ARCOlisboa nos permite fazer uma investigação reduzida, porque são apenas 8 as galerias no projeto “As Formas do Oceano”, quisemos que essa ligação tivesse lugar. A criação está muito viva e muito ativa nesta questão de como se relacionar com o passado e o futuro.

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