07 jun, 2024 - 11:03 • Maria João Costa
Escrita em 1939, quando Bartold Brecht estava no exílio, depois de fugir ao nazismo, e nas vésperas da II Guerra Mundial, “Mãe Coragem” é a peça que o Teatro do Bairro escolheu para assinalar os 20 anos de vida.
A peça sobe ao palco do Grande Auditório do Centro Cultural de Belém este fim-de-semana protagonizada pela atriz Maria João Luís. Considerada por muitos como a mais representativa obra do teatro épico de Brecht a peça ganha renovada atualidade na opinião do encenador.
Em entrevista ao Ensaio Geral, da Renascença, António Pires começa por desabafar e dizer que “é preciso coragem” para levar à cena a peça. “É um espetáculo que aborda temas que nos são tão próximos”, refere o encenador.
“Mãe Coragem, antes de mais, é um espetáculo sobre a guerra e fala de uma forma muito crua sobre a guerra. É preciso tratar o que é dito em palco de uma forma muito responsável, porque as coisas que são ditas são de tal forma cruéis. É um aviso sobre a forma como os seres humanos deixam de ser quase humanos quando estão em guerra”, explica António Pires.
Na memória de muitos portugueses “Mãe Coragem” ficou eternizada pela representação de Eunice Muñoz. Agora, será Maria João Luís a dar corpo à personagem de Anna Fierling, a vendedora ambulante que atravessa os campos de guerra, arrastando uma carroça e carregando os seus 3 filhos.
“Este é um espetáculo que permite uma atriz pôr em cena um personagem absolutamente maravilhoso”, sublinha Pires. “Esta ‘Mãe Coragem’ é um personagem quase icónico. Acho que a Maria João Luís é absolutamente a atriz para fazer este texto. Tenho muita sorte de poder dirigi-la nesta ‘Mãe Coragem’, e sorte terá também todo o público que vai ver, porque é mesmo uma coisa a não perder”, destaca o encenador.
Maria João Luís encarna esta mãe, sobrevivente, que na carroça carrega a sua coragem. Um papel que na opinião de António Pires exige experiência. “Para fazer o que ali está, é preciso ser uma atriz, já com uma maturidade muito, muito grande devido aos estados limites que são postos em cima do palco, à emoção, ou às coisas por que ela passa”, sublinha.
“Nós estamos a vê-la a perder os filhos para a guerra, e ela continua, portanto, isto é absolutamente difícil. Transformar isto numa coisa credível” é exigente, refere o encenador. “Mãe Coragem” é um espetáculo que integra a programação dos 50 anos do 25 Abril. Vai estar no palco no Grande Auditório do CCB este fim-de-semana, depois será repetido no Festival de Teatro de Almada e no Verão será apresentado no Convento do Carmo, em Lisboa.