08 jul, 2024 - 11:06 • Maria João Costa
“Preocupação e indignação” é o que leva 20 entidades do setor do livro a juntarem-se numa carta enviada hoje a três ministras do Governo. Em causa estão os “repetidos ataques de elementos da Habeas Corpus e do partido de extrema-direita ‘Ergue-te’” nos últimos meses a escritores e eventos ligados ao livro.
“Num intento claro de boicote aos livros, às suas autoras e ao seu público, esses elementos têm invadido e desrespeitado a privacidade das autoras. Procuram criar um clima de medo e insegurança, intimidam com berros e insultos, calúnias e mentiras”, refere a carta.
Enviada às ministras da Administração Interna e Justiça, com conhecimento à ministra da Cultura, a missiva lamenta o “discurso de ódio, violento e discriminatório, proferido por estas organizações”.
“Muitos destes ataques e ameaças são feitos publicamente, gravados pelos próprios e, depois, orgulhosamente partilhados nas redes sociais”, denuncia a carta que diz que tem havido ataques a “escritoras de livros infantojuvenis e a bibliotecários, à leitura tranquila numa biblioteca pública e a apresentação de livros e debates”.
O caso mais recente passou-se no Porto, na Livraria Fnac, numa ação de divulgação do livro "O Avô Rui, o senhor do Café" (ed. D.Quixote) da autora Mariana Jones. O evento acabou por ser cancelado pela livraria devido aos ataques de elementos destes grupos extremistas, e mesmo tendo sido avisadas as autoridades.
Em declarações à Renascença, Maria Vlachou da associação cultural Acesso Cultura diz que isto não é só uma questão para o ministério da Cultura.
“Consideramos que isto é altamente preocupante num país democrático e que esse direito e liberdade, devem ser defendidas por vários setores que não apenas a cultura. A Administração Interna e a Justiça devem ter um esforço conjunto para defender aqueles que são direitos de todos os cidadãos, num país democrático”, sublinha.
A carta conta com assinaturas do administrador executivo do Grupo Leya, Pedro Sobral que é também presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, da diretora editorial e co-diretora geral do Grupo Penguin Random House – Portugal, Clara Capitão, bem como com da presidente da Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas, Profissionais da Informação e Documentação.
No documento, a que a Renascença teve acesso, e que é também assinado por livreiros Rui Campos , da Livraria da Travessa, ou Ana Paula Farias e Inês Araújo da GATAfunho é pedido à ministra Margarida Blasco, da Administração Interna, para “tomar medidas urgentes para impedir a continuação destes incidentes graves e garantir segurança e liberdde de qualquer cidadão”.
A carta também subscrita por Sofia Afonso, presidente da ReLI, a Rede de Livrarias Independentes e pela editora Isabel Minhos Martins da Planeta Tangerina pede à ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice para “agir com urgência em relação às queixas apresentadas”.
Segundo Maria Vlachou, da Acesso Cultura, a carta é agora “aberta” para que qualquer cidadão “que se reveja e queira dar o seu apoio” a esta causa. “Não podemos deixar que a censura, a perseguição e a intimidação voltem a fazer sombra sobre livros, autores e leitores”, pode ler-se na carta que hoje seguiu para o Governo.