20 set, 2024 - 23:28 • Maria João Costa
O renovado Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, tornou-se mais transparente. O projeto do arquiteto japonês Kengo Kuma abriu janelas onde antes havia paredes e criou uma pala em madeira virada para um novo jardim.
A abertura ao público faz-se este fim-de-semana com entrada gratuita e em ambiente de festa. Os visitantes vão poder entrar por uma nova porta, na rua Marquês da Fronteira, e por ai pisar o novo jardim criado pelo paisagista libanês Vladimir Djurovic.
De frente podem ver a “Engawa”, o nome que no Japão se dá ao espaço de passagem entre o interior e exterior das casas tradicionais e que o arquiteto Kengo Kuma criou. É uma pala em curva coberta de madeira e que inclui materiais feitos em Portugal.
Paula Roque, da Revigrés, explica que da fábrica portuguesa saíram “três mil peças, de 90 por 90 centímetros, que estão aplicadas na cobertura principal do novo Centro de Arte Moderna e que foram depois acabadas na Fábrica de azulejos Viúva Lamego”.
A sul, o CAM ganhou um novo jardim que faz um diálogo com o já existente na Gulbenkian e que teve a mão do arquiteto Ribeiro Telles. No olhar do arquiteto português Ricardo Bak Gordon, “fez-se cidade” ao alargar o perímetro verde do CAM.
“Sentia-se que esta impossibilidade de o jardim estar aberto a sul afastava o CAM do centro de Lisboa”, disse Bak Gordon à Renascença, na cerimónia de inauguração. Na opinião do arquiteto, há agora “uma grande diferença que vai ser uma virtude de que o público vai disfrutar”.
Na inauguração nos discursos quer do presidente da Gulbenkian, António Feijó, como do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foram evocados os legados dos anteriores presidentes da fundação, bem como do fundador Calouste Gulbenkian.
No jardim, debaixo da pala, Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou a ocasião para anunciar que irá atribuir a Ordem de Cristo à Gulbenkian. Explicou que só não o fez neste dia de inauguração, por se estar a assinalar um Dia de Luto Nacional em memória das vítimas dos incêndios.
Segundo o Presidente, a Ordem de Cristo é atribuída a instituições públicas, mas que no caso da Gulbenkian aplica-se pelo sentimento de “gratidão” que os portugueses sentem por esta instituição privada.
A Gulbenkian anunciou que na inauguração do CAM estariam dois mil convidados. Mas as contas de Marcelo Rebelo de Sousa, que olhava do palco, contabilizaram três mil. Entre esta multidão que ia da política à cultura estavam alguns que ainda têm memória da inauguração do CAM.
Era o caso de Arlete Silva. A galerista da Galeria 111 de Lisboa recorda que esteve na abertura em 1983 do então edifício de betão da autoria do arquiteto britânico Leslie Martin.
À Renascença aponta diferenças. “Houve grandes mudanças”, refere nesta que diz ser “a sala de visitas da arte em Portugal". O CAM tem agora mais quatro salas de exposições, ganhou 900 m2 de área expositiva.
Na inauguração, diz entusiasmado o diretor Benjamin Weil, há mais atratividade. “Podem disfrutar de um extraordinário projeto de Leonor Antunes, da maravilhosa exposição de Fernando Lemos, uma boa exposição da coleção permanente e visitar as reservas”.
Estas são algumas das novidades com que o CAM abre, além das exposições de Yasuhiro Morinaga e Go Watanabe que dão seguimento à Temporada de Arte Contemporânea Japonesa, criada pela curadora francesa Emmanuelle de Montgazon.
Na inauguração estiveram presentes muitos artistas que já expuseram no Centro de Arte Moderna e que têm obras na coleção. É o caso de Pedro Calapez que, à Renascença, recorda ter estado presente com uma obra na exposição de abertura.
“Acho que este novo espaço ganhou. Aliás eu estive na primeira exposição, quando isto abriu. Tinha aqui uma peça. Lembro-me que havia uns painéis, era outro conceito”. Contudo, o artista confessa que achou que o renovado CAM “fosse maior”, mas diz logo de seguida a rir: “nós os artistas temos sempre vontade de ter mais espaço!”
A este olhar critico, junta-se também um apelo de outro artista, Manuel João Vieira que também tem obras na coleção do CAM. O pintor e músico diz aos nossos microfones esperar que a nova programação seja mais inclusiva.
“Queria fazer um apelo a que a nova programação do CAM e os programadores transcendam a lógica daquilo que são as modas contemporâneas de encenar arte para abrangerem artistas portugueses modernos e contemporâneos de todos os géneros e que não fossem ostracizados artistas masculinos dos anos 1980.”
A nova programação, para já, está em segredo, diz o diretor Benjamin Weil. Mas até 7 de outubro a entrada no CAM será gratuita para visitar as novas exposições.