18 out, 2024 - 20:25 • Maria João Costa
No âmbito da conferência “Atos para a Democracia Cultural” que decorreu, esta sexta-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, foi lançado um livro que reúne um ano de experiência do projeto que o Teatro Nacional D. Maria II (TNDMII) implementou para levar a cultura ao encontro de novos públicos em todo o território.
O Atos é um projeto que nasceu em 2023 com a Odisseia Nacional quando o TNDMII encerrou para obras a sala de Lisboa e andou pelo país. O programa que envolveu dezenas de municípios e artistas tem em 2024 uma segunda edição.
Mas o resultado do ano inicial surge agora reunido num livro que a Gulbenkian e o TNDMII editaram e que, tal como explicou Narcisa Costa da fundação revela “uma aprendizagem enorme” do que foi feito. Nos textos, disse a responsável, são também expostas “as dificuldades”.
No primeiro de dois dias de conferência que decorre na Gulbenkian, o diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II explicou que a “ideia de dedicação ao território” que o Atos promoveu “é um caminho sem regresso”, querendo com isto explicar que o Atos vai continuar a desassossegar as comunidades artísticas e locais, mas agora de uma forma mais “lenta”.
Depois do primeiro ano intenso, em que foram abrangidos mais de 40 municípios, agora o Atos demora-se mais e está em seis municípios. “O mais importante foi chegar perto dos territórios”, referiu Narcisa Costa que fala do “trabalho de escuta, aprendizagem” que é feito neste programa onde se quer tocar com a cultura aqueles que nem sempre se sentem ouvidos.
Esta sexta-feira, na Gulbenkian, a conferência arrancou com Martin Essayan da Gulbenkian a falar da “crença no poder transformador da arte”, evocando todo o legado do fundador Calouste Gulbenkian. O bisneto do fundador e um dos administradores da Gulbenkian lembrou como as “pessoas que participam e são ouvidas” têm um sentimento de “pertença”.
Também na abertura, Rui Catarino, presidente do conselho de administração do D. Maria II, lembrou que o Atos “foi uma das facetas de maior impacto da Odisseia Nacional” e sublinhou que “a democracia cultural não é um conceito abstrato, mas pratica-se todos os dias”.
Numa sessão dedicada ao tema “Cultura com as pessoas para não desistirmos da democracia”, o brasileiro Marcus Faustini lembrou que quando os artistas estão no terreno a trabalhar com a comunidade “não é para ensinar”, mas sim para criar em conjunto
“O papel do artista como revelador da alma humana tem de ser repensado”, apontou referindo que no seu entender, e da experiência que tem com comunidades, “a cultura tem de ter impacto”.
“Chega de ficar em meia dúzia de salas, tão pouco tempo, e chega de reivindicar o lugar de vanguarda”, diz de forma critica Marcus Faustini. Na sua ótica “a arte pensa” a forma como “pode contribuir para a vida”
“Hoje temos de pensar não na diversidade, mas sim na diferença. Fazer junto. Colocarmo-nos como mais um, e não, como um que seja a síntese de todos” lembrou a uma plateia de agentes culturais que no terreno trabalham com comunidades que, em alguns casos, são estreantes no que toca ao contato com o meio artístico e cultural.