16 nov, 2024 - 23:33 • Maria João Costa
Já foi ministro da Cultura, mas em matéria literária diz-se um leigo. O socialista Augusto Santos Silva, economista e sociólogo de formação, apresentou no Festival Utopia, em Braga, o seu mais recente livro.
“Obrigado por Estarem Aqui” (ed. Imprensa Nacional) reúne um conjunto de ensaios que o ex-presidente da Assembleia da República escreveu sobre a literatura portuguesa. De Lídia Jorge, a Saramago, de Eugénio de Andrade a Eça de Queirós, o autor escreve sobre a importância da escrita destes autores.
Na Capela da Imaculada, Santos Silva considerou que “devemos colocar a cultura na bagagem dos nossos diplomatas, políticos, eurodeputados, dos portugueses que fazem negócios pelo mundo e que trabalham pelo mundo”.
Ele que recorda nos teus tempos de também ministro dos Negócios Estrangeiros, nas reuniões da União Europeia, o seu discurso sobre, por exemplo, as relações Europa- Africa ser escutado com pouca atenção pelos seus homólogos, defende que a cultura tem importância geopolítica”.
“É importante, porque levando a literatura portuguesa conseguimos explicar melhor o que é Portugal e qual o papel que Portugal desempenha e pode desempenhar no mundo”, refere.
Em declarações à Renascença, Santos Silva explicou no final da sua intervenção que “a literatura trabalha sobre a língua e a nossa língua não é exclusivamente nossa. Quando cultivamos a nossa literatura, devemos também cultivar a literatura dos outros, em particular dos outros que se exprimem em português”, sublinhou.
Considerando que a “diáspora portuguesa é uma frente de contato”, Santos Silva lembra que “no século XXI, o português vai tornar-se mais africano”. “Hoje o português tornou-se uma língua sobretudo sul-americana, brasileira, e ao longo do século XXI, dizem as projeções, o português vai passar a ser falado maioritariamente em África e, portanto, vai ser uma língua Africana”, acrescentou.
Questionado pela Renascença como é que explica que a língua portuguesa tarde em ser reconhecida como uma língua oficial das Nações Unidas, Augusto Santos Silva reconhece que há “razões históricas que têm sempre uma inércia própria”.
“As Nações Unidas têm seis línguas oficiais, o inglês, o espanhol, o mandarim, o russo, o árabe e o francês. Dessas seis línguas oficiais há duas que, por razões de cortesia diplomática, não vou identificar, mas que são faladas por menos pessoas do que aquelas que falam hoje português”
“Acho que será inevitável, a prazo, que o português seja também uma língua falada em organizações internacionais do nível das Nações Unidas. É Hoje uma língua oficial da União Europeia e da União Africana. Mas esse reconhecimento tem que ser alargado”, refere.
Na opinião de Santos Silva a literatura deve ter aí o seu papel no alargamento do peso cultural da língua portuguesa.
“O português não pode viver só de demografia, também tem que viver da cultura porque há muitas línguas internacionais muito reconhecidas, cuja força não está na demografia, mas sim na sua associação à cultura. Italiano e a música, o francês, e o português tem que subir também alguns degraus nessa escala”, aponta Santos Silva.
O ex-ministro remata por isso que o seu livro “pode ser ligo por leigos”. É segundo as suas palavras “um livro que procura estar próximo da vida, e das utopias”.