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Prémio José Saramago

Francisco Mota Saraiva. “O nosso problema é não lermos"

19 nov, 2024 - 17:30 • Maria João Costa

O autor que venceu esta terça-feira o Prémio José Saramago com o livro “Morramos ao menos no porto” considera que só a leitura nos faz ir mais longe e ajuda a combater o mal e o medo.

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É o segundo prémio que ganha em dois anos. Francisco Mota Saraiva não esconde que “sempre ambicionou ganhar o Prémio Literário José Saramago” que esta terça-feira venceu, depois de já ter vencido em 2023 o Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís.

Mas para o autor que venceu o prémio Saramago com o romance “Morramos ao menos no porto” não é fácil carregar os nomes de Agustina e Saramago. “É muito pesado efetivamente”, admite à Renascença esta tarde, no Centro Cultural de Belém onde recebeu o prémio.

“São dois dos maiores nomes, se fizermos uma lista de dez grandes autores portugueses. Agustina e o Saramago estão certamente lá. Isso traz uma responsabilidade acrescida”, explica, acrescentando sente também “medo”.

É “medo por essa responsabilidade de ter esses dois nomes e de todos os outros autores consagrados que já ganharam o Prémio Saramago. Isso traz-me uma responsabilidade acrescida e muito medo ao mesmo tempo”, confessa.

Mas Francisco Mota Saraiva admite também outro medo. “Acho que hoje em dia, o nosso mundo é muito incerto. Longe de mim de querer fazer com isto política, mas a verdade é que há menos luzes, e todas as notícias que nos chegam mais recentemente dos Estados Unidos, deixam-me com grande preocupação e apreensão”, explicou.

Na opinião do autor vencedor do prémio, “se calhar, o nosso problema é não lermos”, afirma. Recorrendo às palavras de Lídia Jorge, membro honorário do júri, indicou: “Quando não lemos, não vemos o outro, e se não lemos o outro, não podemos ir mais longe e combater esse medo e esse mal”.

Em declarações aos jornalistas no final da cerimónia da entrega do prémio, Francisco Mota Saraiva foi questionado sobre o livro com que venceu o prémio e que só será editado no próximo ano.

O título, “Morramos ao menos no porto” “surge a partir de uma das cartas de Lucílio do Séneca”, explicou. Já sobre o conteúdo do livro, o autor tem dificuldade em falar, temendo revelar o que o leitor ainda terá de descobrir.

“Não queria muito deslindar, porque uma das personagens é uma personagem relativamente curiosa. É um livro que é narrado na primeira pessoa” disse. Francisco Mota Saraiva indica que é um livro que fala de um “grande amor” e onde “sucedem-se um conjunto de personagens alternadas, onde vamos encontrar figuras representativas, seja do aborto, do fingimento ou de soldados embarcados”

É nesta “multiplicidade de personagens que se vão compondo e criando pequenas histórias”, referiu o autor que nasceu em Coimbra e é licenciado em Direito. É de resto, nas horas vagas que escreve.

“É estranho e difícil, porque efetivamente eu tenho uma profissão e tenho que conjugar a minha vida com essa profissão. Muitas vezes aquilo que acabo por fazer é como se tivesse quase uma duplicidade dentro de mim, que tem que alimentar uma figura mais profissional e depois uma figura mais literária. É difícil, mas o meu gosto pela leitura e pela escrita é muito capaz de suplantar isso”, disse Francisco Mota Saraiva.

Questionado sobre que conselhos daria a quem quer fazer uma carreira literária, o escritor diz que é preciso “ter uma voz”. “O grande conselho que posso dar, é trabalhar muito. Eu estou a escrever há muitos anos. Comecei por escrever muitas coisas más, depois as coisas foram-se tornando um bocadinho melhores, mas isso parte muito de trabalho e dedicação”.

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