22 nov, 2024 - 17:40 • Lara Castro
Direitos de Autor e Inteligência Artificial (IA) são palavras que parecem não se relacionar, mas a artista britânica Imogen Heap apresentou um modelo de IA que promete tornar isso possível.
Na prática, um artista empresta a sua voz e outros podem usá-la para criar mais composições a partir do registo original, sendo possível fazê-lo de forma a pagar aos artistas desde o início. Ao registar cada composição nova em "blockchain", é como se ficasse marcada com um carimbo de data, hora e autor à medida que novas músicas são criadas.
O artista passa assim a usufruir de parte das receitas quando um consumidor usa a sua faixa.
Vencedora de dois Grammys, Imogen Heap é uma artista e produtora, conhecida por unir arte e inovação tecnológica. Em 2010, chamou à atenção quando criou as luvas Mi.Mu, que permitem manipular a música através de gestos com as mãos.
A cantora e compositora passou pelo palco principa(...)
Na Web Summit Lisboa deste ano, apresentou o StyleFilter — uma plataforma que criou em conjunto com a CEO da Jen, que gera música com IA — para criar uma ferramenta que coloca em primeiro lugar os direitos e a remuneração justa dos artistas.
“É difícil licenciar música, é difícil fazer a coisa certa. O que eu quero é que seja mais fácil para os serviços fazer a coisa certa”, explicou Imogen Heap.
Numa primeira versão da ferramenta, Imogen Heap autorizou a recolha da sua voz a partir de dois dos seus singles. Depois, qualquer pessoa pode pedir ao modelo da IA novos estilos de composições e cruzá-los com o estilo da artista para criar algo novo.
“Este é o início da criação de música com IA”, disse a artista britânica, que anunciou que o lançamento da plataforma será em dezembro.
“Quanto custa fazer um artista hoje?” A questão foi o ponto de partida que impulsionou Mia Bastos, fundadora e CEO da Aurora Music, uma plataforma imersiva que reúne várias Inteligências Artificiais (IA) do mercado da música para ajudar o artista no processo de criação.
Durante os 15 anos em que esteve ligada ao mercado da música, Mia Bastos trabalhou com artistas como Luisa Sonza e Tati Zaqui. Como cantora nunca teve oportunidade de produzir um álbum em nome próprio, por “ser muito caro” e “inacessível”.
À Renascença, Mia Bastos explica que criou a Aurora Music “para que outros artistas possam encontrar esse caminho mais acessível”. A plataforma permite “acelerar o processo de criação das 'demos' musicais", quando o artista ainda está a tentar perceber “por onde quer ir”.
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Assim que entra na plataforma, o utilizador é transportado para um estúdio virtual, a que pode aceder com óculos de realidade virtual. Depois de personalizar o estúdio ao seu gosto, o utilizador pode, com ajuda de IA, criar a letra, construir o "beat", fazer a mixagem e masterização. Com a música concluída, a plataforma trata também da distribuição.
O processo começa com uma frase. Mia Bastos exemplifica: O utilizador pode dizer algo como “quero uma guitarra country com 130 bpms” e depois escolher o nível de complexidade e de improvisação que a IA vai ter.
"Sem querer substituir o artista", a criadora explica que toda a criação é um processo colaborativo. "Se colocar lá 'inputs' muito óbvios, o resultado vai ser óbvio, mas se houver a preocupação de contar uma história interessante para a IA, ela vai-te ajudar a conseguir rimas mais rápido, métrica mais rápido".
Eddie Hsu também criou uma plataforma de música que tira partido da tecnologia. Com 50 milhões de utilizadores em todo o mundo, a Music.ai é uma aplicação para praticar e criar música com recurso à Inteligência Artificial.
Para o criador, a ideia é que a plataforma seja interpretada como uma ferramenta de assistência para o artista “alcançar a visão criativa”.
Eddie Hsu esteve na WebSummit para responder ao que “soa a Inteligência Artificial”. O responsável pela Music.ai explicou que, na prática, a IA generativa transforma o “primeiro rascunho” de uma música numa versão “melhorada”. Sendo o primeiro rascunho uma faixa com voz e guitarra, é possível em colaboração com a IA gerar mais faixas — adicionar uma bateria, uma linha de baixo, guitarras, piano e até alterar o timbre da voz base.
Mas não é só para os criadores que a IA está a trazer grandes mudanças na relação com o áudio: a nova era da computação vai está a permitir a criação de novas experiências aos programadores. Hsu antecipa um futuro próximo em que será possível, por exemplo, ouvir música e ter a possibilidade de silenciar as vozes ou ver um filme e aumentar os efeitos sonoros. Atualmente, nos dispositivos apenas existe a possibilidade de aumentar e diminuir o som. Eddie Hsu acredita que, em 2025, vai ser possível controlar qualquer áudio, em tempo real, utilizando IA.
“Espero que consigam imaginar que, da próxima vez que estiverem a segurar no vosso computador, telemóvel, ou talvez quando estiverem numa viagem com a vossa família, no vosso carro a ouvir rádio, podem, com o premir de um botão, dizer: 'Vamos fazer karaoke. Silenciar as vozes e deixar apenas os instrumentais da música.’”