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Entrevista Renascença

Campeão mundial de DJs anda de bicicleta “para estar horas sem ouvir nada”

06 dez, 2024 - 17:55 • Maria João Costa

Stereossauro é o novo campeão mundial de DJs. Venceu, em Paris, o campeonato de Disco Mixing Club. É a quarta vez que ganha. Chegou a treinar para a competição “com as luzes apagadas”. Longe do estúdio, diz que precisa de silêncio.

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Chegou a treinar “com as luzes apagadas” ou a montar a mesa de mistura na bancada da cozinha, para se preparar para qualquer imprevisto que poderia surgir na competição em Paris. Mas, pela quarta vez, o português Stereossauro venceu o campeonato do mundo de DJs.

Radicado nas Caldas da Rainha, este DJ que gosta de fazer desporto, confessa que quando vai andar de bicicleta não leva auscultadores e prefere “não ouvir música”.

Nesta entrevista em que Stereossauro explica a origem do seu nome artístico que confessa foi um acaso, recorda também que foi por causa de um gira-discos que tudo começou.

O que é que este prémio mundial vem alterar o rumo da sua carreira?

Felizmente já tenho uma carreira, digamos assim, de campeonatos de DJs que faz com que, se calhar, já esteja satisfeito. Já estou de barriga cheia! Há sempre mais qualquer coisa para fazer, mas de momento acho que estou satisfeito.

Que categoria é este em que venceu?

Esta é uma categoria mais virada para o lado “party”, para a pista de dança, ou seja, não é 100% técnica. Também importa a reação do público, a escolha musical, todas essas coisas.

Daí ser a competição “Disco Mixing Club”?

Sim, esse nome já vem do início dos anos 80, quando foi criado o campeonato, que começou precisamente por algo mais virado para a discoteca, mas que depois evoluiu para a parte mais técnica.

E agora está a regressar a essas origens da parte mais dançável.

Treinou muito?

Há muita preparação e o “set” já ia 100% definido. Apesar de serem 15 minutos, aquilo ia contabilizado basicamente ao segundo.

Havia músicas que tinham que entrar mesmo naquela altura. Mas tenho imensa preparação para qualquer coisa que aconteça poder improvisar ao vivo.

Como é que se prepara para um imprevisto?

Por exemplo, eu cheguei a treinar com mesas de misturas diferentes, com alturas de bancada diferentes. Montava as coisas na cozinha, depois montava no estúdio, porque não sabia qual era a altura da bancada que ia encontrar lá no campeonato.

Cheguei a treinar com as luzes apagadas, só com as luzes dos equipamentos, porque é muito difícil prever se eles põem lá com “strobes”, ou se me desligam as luzes. Treinei para tentar prever essas situações todas.

E como é que escolhe a música?

É um “set” que já levava pré-definido, e que é o resultado de muitos anos de DJ set, de coisas que eu já venho a experimentar quando vou pôr música. É tipo: “Olha! Esta passagem resulta, esta música resultou melhor do que outra!”. Então vou pondo essas ideias para o lado, e depois, quando é a altura de montar o set, essa experiência tem toda muito peso.

Uma das coisas que os júris procuram nesta categoria é que mistures música de diferentes eras, de diferentes estilos, e de diferentes BPMs [Batimentos por Minuto], ou seja, não é suposto fazeres um “set” só de “Drum'n'bass”, mas sim que haja uma mistura de estilos.

Fazeres um bom “set”, mas só de “House”, ou só de “Drum'n'bass”, não vai funcionar. É expectável que mistures vários estilos e até ir buscar coisas inesperadas.

No passado já trabalhou até músicas de Carlos Paredes, ou de outros músicos portugueses que levou para a sua mesa de mistura.

Tenho músicas desde os anos 70, até aos dias de hoje que passa um bocado pelo Rock, depois vamos ali um bocadinho ao House, Drum'n'bass, sempre com muita influência do Hip-Hop, que é o estilo no qual eu me sinto mais à vontade, mas também cenas de Baile Funk. Tudo muito virado para a pista de dança.

Ainda se lembra como tudo isto começou? Como é que se tornou DJ?

Esta história de DJ começou, mais ou menos, em paralelo à escola e à universidade. Foi nessa altura que comecei a produzir e a fazer instrumentais de Hip-Hop.

O gira-discos veio como forma de arranjar “samples” e fazer “Scratch”. Não era tanto com o ser DJ, em mente. Foi uma coisa que veio por efeito secundário. Já tinha o gira-discos, e a mesa de mistura, e comecei, por desafio de alguns colegas, a ir pôr som às festas da escola, mas na verdade começou porque eu estava dedicado a fazer instrumentais, a fazer batidas para Hip-Hop e o gira-discos era a fonte dos samples.

Quando estava a pesquisar “samples” para fazer os meus instrumentais, quando digo “samplar” é retirar pedaços de músicas, fazer “loops” e construir música com pedaços de outras músicas, comecei a pensar, bem, nos Estados Unidos o hip-hop começou porque começaram a “samplar”

Começaram a “samplar” o Funk, o Soul e as músicas da Motown, portanto, sendo português eu fui samplar o que é nosso. Fui à procura do Fado, que era grande parte dos discos que eu tinha da minha família, em casa.

Foi aí que começou?

Foi assim que começou esse interesse, e rapidamente me apercebi que aí estaria uma maneira não só de fazer as coisas de uma forma fresca e diferente, mas também de garantir uma personalidade e identidade diferente dos demais.

Qualquer pessoa que ouvisse a minha música saberia, “isto não é um produtor americano e não é um produtor francês, vem de outro sítio”.

Como é que surgiu o seu nome artístico, Stereossauro?

Poderia ter aqui uma história muito bonita, mas foi um acaso!

Vi uma daquelas máquinas que tem uma pequena gruazita, e tem bonecos de peluche, em que se mete um euro e tenta-se sacar um boneco, sabe? A máquina tinha uns dinossauros desenhados e chamava-se, salvo erro, “Cranesaurus”. E eu, olhei para aquilo, e automaticamente na minha cabeça foi: “Olha! Stereossauro!” Pronto, é o meu nome de DJ!

E agora depois do vencer o campeonato, vai continuar a concorrer?

É mais uma medalha para associar ao meu nome. Continuarei a trabalhar, no sentido em que já estava a trabalhar. Mas tem resultado em termos de visibilidade. Foi algo que chamou muito a atenção.

Agora, eu tinha a hipótese de se quisesse, para o ano, ir defender o título. Mas eu disse que preferia ser júri. Até porque, isto já é o meu quarto título mundial. Acho que não é algo que eu tenha que continuar a fazer. Mas quero continuar ligado às competições. E a melhor maneira é passar para o lado de lá, e passar a ser júri dos campeonatos.

Venham outros, porque isto também é um stress muito grande. É algo que me ocupa muito tempo e no qual fico focado durante muito tempo. Agora quero descansar um bocadinho das batalhas.

E o que é que faz quando não está a ser DJ? Precisa de silêncio?

Por exemplo, eu faço muito desporto. Vou jogar basquete, vou andar de bicicleta. E, quando, por exemplo, vou andar de bicicleta vejo muitas pessoas sempre a andarem de bicicleta ou a correr com auscultadores.

E eu nunca levo auscultadores! Eu vou precisamente andar de bicicleta para estar umas ou duas horas fora do estúdio, sem ouvir nada. E para não ouvir música durante um bocado.

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