17 dez, 2024 - 18:11 • Jaime Dantas
Seguindo o princípio de que em equipa que ganha não se mexe, em 2025, a Fundação de Serralves, no Porto, vai continuar a apostar em grande parte da oferta cultural deste ano, mas há algumas novidades.
Na apresentação, que aconteceu na manhã desta terça-feira, foi anunciada a criação de um centro de educação para o futuro, nas áreas de atuação da fundação. Sem avançar muitos mais detalhes, a ainda presidente do conselho de administração, Ana Pinho, revelou apenas que o projeto do edifício, da autoria do arquiteto Eduardo Souto Moura, já está fechado e será construído num terreno da fundação, na rua de Serralves.
No museu, o destaque vai para as exposições das artistas Zanele Muholi, da África do Sul, e Mounira Al Solh, do Líbano, e a portuguesa Filipa César. Partindo das imagens do cinema daquela época, farão uma reflexão sobre os efeitos do colonialismo português e as questões da identidade de género.
Já no campo das artes visuais e performativas, Anne Imhof, artista alemã galardoada na Bienal de Veneza, em 2017, versará sobre a história da pintura e os fetiches da cultura contemporânea.
Transitam para 2025 várias iniciativas que contaram com uma forte adesão do público, como a exposição Narcisius Garden, de Yayoi Kusama. Uma continuidade que, para o diretor do museu, reflete a qualidade apresentada aos visitantes nos últimos anos.
"O nosso programa foi tão apreciado que decidimos repeti-lo no próximo ano, com algumas novidades", disse.
Apesar de, no essencial, seguir uma linha de continuidade da oferta previamente apresentada, é no parque que florescem as principais novidades do próximo ano.
Este é um sinal daquilo que são os objetivos da gestão em "tornar esta área uma nova centralidade em Serralves", afirmou a responsável Helena Freitas.
Impulsionada pelo consórcio europeu SOILSCAPE, a literacia sobre o solo será merecerá grande foco. Vão ser realizadas atividades para os mais pequenos, a realizar nas estufas construídas recentemente e uma conferência sobre a conservação dos solos, entre outras.
No domínio das exposições, "A Audição Vibratória", de Gil Delindro, é outro dos destaques. O projeto pretende construir um diálogo com a comunidade surda - e pela comunidade em geral - através de esculturas que transmitem de forma física as vibrações sonoras da cidade do Porto.
Entre aquilo que transita deste ano para o próximo estão os eventos "Greenfest" e "Boil Serralves - Climate Festival", ambos sobre a sustentabilidade e a ação climática.
Por fim, na Casa do Cinema Manoel de Oliveira, será apresentado o terceiro e último momento do ciclo de exposições "Manoel de Oliveira e o Cinema Português", que se foca no período entre 1990 até 2015, ano da morte do realizador.
Continuam os ciclos de cinema de Jean Luc-Godard, um dos maiores realizadores do cinema europeu. Será ainda realizada uma "retrospetiva seletiva" à obra de Luís Garcia Miranda, um dos mais fundamentais realizadores ibéricos, mas cuja obra foi "pouco explorada em Portugal e muito menos no Porto", lamentou o diretor da Casa de Cinema Manoel de Oliveira, António Preto.
Vai poder fazer ainda uma viagem pelo espólio de arte do ator e encenador Luís Miguel Cintra, que conta com várias obras de arte sacra e brinquedos antigos, até agora guardados nas suas duas casas em Lisboa.
O início da apresentação na biblioteca do Museu de Serralves ficou marcado pelo fecho de ciclo de Ana Pinho, que deixa a presidência do conselho de administração para suceder a Rui Vilar na liderança do conselho de fundadores.
A responsável aproveitou o momento para demonstrar o trabalho desenvolvido ao longo dos nove anos (2015-2024) à frente dos destinos daquele que é um dos equipamentos culturais mais importantes do país. No seu currículo fica a requalificação de vários equipamentos e a criação de novos, onde se incluem a Ala Álvaro Siza, a Casa do Cinema Manoel de Oliveira e o "Treetop Walk".
Ana Pinho sublinhou ainda que, entre 2015 e 2024, o número de exposições aumentou 47% em relação aos nove anos anteriores ao seu mandato. O maior aumento deu-se mesmo no valor das obras adquiridas pela instituição, que subiu dos 16 para os 130 milhões de euros.
Ainda sem sucessor conhecido, a agente cultural despediu-se do cargo dizendo que deixa uma "fundação sólida, dinâmica e próxima do seu público" que espera que "continue a ser desenvolvida".